Setores mais afetados pelo desemprego| Foto:

Deterioração depende de medidas anticrise

O grau de deterioração do quadro do emprego, no entanto, dependerá dos efeitos da série de medidas do governo para melhorar a circulação do dinheiro na economia. Além de pacotes de ajuda financeira para o setor automotivo e da construção, o governo espera que os bancos voltem a emprestar no início do próximo ano. Com mais dinheiro em circulação, as empresas voltam a financiar produção e investimentos, e a população, o consumo. Mas o mercado é cético em relação à velocidade e o nível de retomada do crédito. "Dificilmente voltaremos aos patamares anteriores", diz Cid Cordeiro, economista do Dieese.

Para Claudio Dedecca, da Unicamp, isso não é necessariamente algo ruim. "Vimos setores que cresciam 30%, como o automotivo, em função do crédito farto. Nenhum setor consegue sustentar um avanço como esse. O que é importante é que o crédito, que se tornou inexistente, volte a existir no mercado."

Segundo ele, além de destravar o crédito, o governo tem pela frente o desafio de usar a política monetária a favor do crescimento econômico. "A estratégia política do presidente Lula foi toda calcada no crescimento, no emprego e na renda. Não há dúvida de que o governo pretende manter essa orientação visando também à corrida presidencial em 2010", diz ele, que prevê aumento do embate dentro do governo sobre taxa de juros e a inflação. Um eventual aumento dos juros pode esfriar ainda mais a economia, com reflexos no emprego. (CR)

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Depois de bater recorde, o ritmo de geração de novos empregos deve perder o fôlego. Embora o risco de recessão seja remoto, analistas acreditam que o crescimento econômico menor e os efeitos da crise global vão afetar o volume de contratações e pressionar os índices de desemprego em 2009.

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A crise, que se agravou em meados de setembro, pegou no contrapé setores que vinham sustentando o recorde de vagas – como a construção civil e a indústria automobilística. "O crescimento do emprego estava polarizado em segmentos que agora passam por dificuldades", diz Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Com certeza teremos uma redução do ritmo de novas vagas a partir do quarto trimestre deste ano", diz.

O país deve fechar o ano com um saldo – diferença entre contratações e demissões – recorde de 2,1 milhões de vagas com carteira assinada, um avanço de 30% em relação a 2007, segundo projeção do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Especialistas acreditam que, para 2009, esse número possa cair 40% – algo próximo de 1,2 milhão de vagas geradas – bem abaixo da previsão do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que estima um saldo de 1,8 milhão de vagas no próximo ano.

Para 2009, as previsões de crescimento econômico estão na faixa de 3%, contra os 5,2% para 2008. O nível de emprego e o Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todas as riquezas do país – carregam uma relação direta, segundo Cid Cordeiro, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Paraná. "Tradicionalmente, com um crescimento acima de 3% há geração de vagas. Abaixo desse nível o país gera desemprego. Portanto, o Brasil vai caminhar no fio da navalha em 2009", diz.

Para o professor Claudio Dedecca, do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), apesar de a crise ter explodido em setembro, dificilmente haverá uma reversão significativa do quadro do emprego para este ano. Mas, para 2009, ele prevê forte aumento da informalidade.

"Antes de haver um crescimento do desemprego, vai avançar o número de contratações sem carteira assinada, invertendo o quadro de crescimento da formalidade que vimos nos últimos anos", diz. Com uma previsão de evolução do PIB de 2% a 4% para o próximo ano, ele acredita que, em um cenário mais pessimista, o número de vagas geradas pode ser insuficiente para fazer frente à procura por emprego.

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De acordo com analistas, os efeitos da crise sobre a economia brasileira ganharam uma velocidade e uma dimensão muito maiores do que se esperava. O corte abrupto do crédito – o principal reflexo do choque global na vida da população e das empresas até agora – compromete consumo e investimentos em expansão, o que, por sua vez, limita a geração de novas vagas. "A crise é grave e longa. Não dá para tentar tapar o sol com a peneira e fingir que ela não existe. O emprego será afetado e o saldo de vagas vai encolher porque vários setores já dão sinais de desaceleração", prevê Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria.

Setores

As montadoras de automóveis – que somente neste ano geraram 11,3 mil empregos – colocaram o pé no freio, com o anúncio de férias coletivas e programas de demissões voluntárias. Para 2009, o setor, que representa 5,4% do PIB brasileiro, prevê expansão nula de vendas. A freada da produção de veículos afeta toda a cadeia automotiva, com reflexos na rede de concessionárias e na indústria de autopeças.

Em meio à crise de crédito, o setor da construção civil – campeão de geração de empregos, com 225 mil vagas somente no ano passado – anunciou o adiamento de lançamentos e algumas construtoras e imobiliárias começam a fazer cortes de pessoal. Prevendo redução de investimentos, o setor de máquinas para construção – que até setembro vivia o melhor ano da sua história – vai dar férias coletivas em janeiro para ajustar seus volumes de produção.

As empresas exportadoras, que passam agora a contar com a vantagem do dólar valorizado, terão de enfrentar, por outro lado, o baixa demanda por seus produtos no mercado externo, em função da recessão nos Estados Unidos e na Europa. O baixo preço das commodities, apontam analistas, também deve afetar setores empregadores de mão-de-obra intensiva, como a agricultura."Podemos dizer que alguns setores acenderam a luz amarela. Teremos um primeiro trimestre de 2009 muito difícil", prevê Christian Majczak, da GO4! Consultoria.

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