A crise afetou os brasileiros de todas as faixas de renda no ano passado. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2015), divulgada na semana passada pelo IBGE, mostram que o rendimento real do trabalho passou de R$ 1.950 para R$ 1.853, uma queda de 5% na comparação de 2015 com 2014. Este é o primeiro recuo do índice em 11 anos. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho sinaliza que a recuperação da renda deve ser lenta, já que a criação de novas vagas neste ano só apresenta saldo positivo para empregos com jornadas menores e que pagam até 1,5 salário mínimo, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Veja dados da precarização do emprego
Até outubro deste ano, houve o fechamento de cerca de 1 milhão de vagas de emprego com remuneração mais alta, acima de 1,5 salário mínimo. Apenas entre os três níveis salariais mais baixos (até 1,5 salário) houve saldo positivo de postos de trabalho, com cerca de 250 mil vagas criadas neste ano.
A maior força da geração de empregos no Brasil se concentra na faixa salarial entre 1,01 a 1,5 salário. Apesar de os números nesta faixa (saldo positivo de 74 mil) mostrarem uma melhora na comparação com o ano passado, quando as demissões superaram as contratações em cerca de 237 mil postos de trabalho, a evolução ainda é pequena. Em 2010, por exemplo, foram criadas 1,4 milhão de vagas nesta faixa salarial.
O brasileiro desempregado que busca uma recolocação no mercado de trabalho também enfrenta dificuldade em encontrar vagas de emprego formal com jornada acima de 30 horas semanais. Segundo o Caged, houve o fechamento de cerca de 826 mil postos de trabalho com jornada entre 41 e 44 horas por semana de janeiro a outubro deste ano. No mesmo período, as contratações superaram as demissões em 107 mil vagas com jornadas menores, de até 30 horas por semana de trabalho.
A retrospectiva dos últimos seis anos mostra que em todos os grupos divididos por jornada havia saldo positivo na criação de postos de trabalho até 2014, quando aconteceu a primeira retração nas vagas com maior jornada (41 a 44 horas), com saldo negativo de 69 mil. A partir daí a deterioração do mercado de trabalho atingiu também a criação de vagas de 31 a 40 horas por semana, que registrou o fechamento de 176 mil postos de trabalho desde o ano passado até agora.
Fernando de Holanda Filho, pesquisador de Economia Aplicada da FGV/IBRE afirma que é difícil falar em recomposição da renda com a crise ainda persistente. “A tendência agora é que o mercado de trabalho só sinalize alguma melhora algum tempo depois da atividade econômica. Em geral, o mercado reage com certo atraso”, diz. Segundo o especialista, a criação de empregos com salários menores está relacionada ao processo de ajuste das empresas, que optam em demitir funcionários mais caros para contratar pessoas com salários menores.