| Foto: Divulgação

William Eimicke leciona no mestrado executivo em Gestão Pública do Columbia Global Center carioca e afirma que o Brasil tem funcionários públicos dedicados e inteligentes. O que falta, diz, são ferramentas para melhorar a gestão e, principalmente, a adoção de contratos abertos, competitivos e transparentes, que inibam a corrupção. Na primeira turma do mestrado executivo voltado exclusivamente para gestores brasileiros, e que tem aulas no Rio e em Nova York, houve 200 inscrições, mas só 25 alunos foram selecionados, num sinal da busca por profissionalização. As inscrições para a próxima turma vão até novembro.

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Por que escolher o Brasil para implementar um curso de gestão pública de Columbia?

O número de problemas no setor público é extenso. Acredito que a razão de haver tanto interesse por nosso programa vem do fato de o Brasil ter despontado como uma potência global. Acho que existe pressão para elevar a qualidade da gestão pública e que o governo dê respostas a problemas que persistem há tempos. Há muitos desafios. As relações entre os setores público e privado nem sempre foram boas. Existem questões de corrupção e ineficiência em áreas como transporte de massa.

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No Brasil, existe uma crença de que a lei previne a corrupção. Mas o que se vê é que leis rígidas não resolvem problemas se existem pessoas dos dois lados, público e privado, dispostas a driblar a legislação

É uma tendência investir na profissionalização da gestão pública?

O setor privado tem expertise e tecnologia melhores que o setor público. O que vemos no caso da Petrobras, por exemplo, vem do problema de se ter funcionários públicos com ética e integridade, mas um sistema falho. No Brasil, e não raro na América Latina, existe uma crença de que a lei previne a corrupção. Mas o que se vê é que leis rígidas não resolvem problemas se existem pessoas dos dois lados, público e privado, dispostas a driblar a legislação.

O problema está nas pessoas que ignoram a lei?

Tem a ver com honestidade e confiança, com leis mais eficazes, mas também com a elaboração de contratos mais abertos, competitivos e transparentes. Você pode criar as melhores leis do mundo. As pessoas honestas vão segui-las; as desonestas vão ignorá-las. Quanto mais o público e a mídia conhecem os detalhes de um contrato, menores as chances de haver corrupção. Se o processo é competitivo, as companhias honestas levam vantagem sobre as desonestas, que tendem a acobertar ou esconder propinas em suas propostas. Se o processo é aberto, a oferta será mais baixa, porque não é preciso pagar pela corrupção.

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O ambiente de negócios, então, também é importante?

O ambiente de negócios e a gestão. O governo precisa de pessoas que sejam especialistas em gerenciamento de contratos, em elaborar bons contratos, que sejam abertas e honestas para debater com a mídia e o público. Existe um outro ponto em que é preciso focar: comunicação. Boa gestão de comunicação e processos abertos são fundamentais quando se precisa de competidores de todo o mundo.

No Brasil, muitas estatais foram usadas com objetivos políticos. Isso também é um problema de gestão pública?

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É um ponto muito importante. Nas últimas três ou quatro décadas, houve uma evolução no sentido do que era estritamente público ou estritamente privado. Vemos mais e mais modelos mistos, não apenas no Brasil, mas em Índia e China. Esses modelos mistos, em que as companhias são em parte públicas e em parte privadas, são particularmente vulneráveis à corrupção e à ineficiência, porque não fica suficientemente claro qual a missão da empresa. Essa missão consiste em maximizar a eficiência e fazer o melhor trabalho para ampliar os resultados? Ou seria levar adiante os objetivos políticos dos sócios estatais ou de pessoas do setor público que tratam da legislação que em parte governa a empresa?

A crise pode ser uma oportunidade de rever nossos sistemas de gestão?

Sim, é exatamente isso. O Brasil é um país único no mundo. Na China, em mandarim,a palavra crise é composta de dois símbolos: um significa perigo; o outro, oportunidade. Agora, a crise que o Brasil enfrenta é também uma grande oportunidade para o país realmente modernizar suas leis, se abrir para ser mais transparente em processos, competitivo e enfatizar o uso das melhores práticas internacionais de gestão. Isso não é tão difícil de ser feito.