A crise econômica e os consequentes cortes às ajudas sociais, reduções de pensões e alta de aluguéis pode colocar em risco de pobreza a enorme população portuguesa que já atingiu a terceira idade, e a maioria vive com menos de 500 euros. Em um país de 10,5 milhões de habitantes, 20% está em idade de aposentadoria (a partir de 65 anos) e, para a maioria, chegar ao fim do mês é uma questão de contar o dinheiro euro a euro.
Em 2011, 85% dos aposentados da Seguridade Social receberam menos de 500 euros mensais. Este grupo cresceu até 1,4 milhão de pessoas, quase 4% a mais que em 2010, e uma parte deles deve recorrer a uma ajuda extraordinária de 100 euros para chegar a um mínimo de 400 euros.
O número de pessoas elegíveis aumentou de maneira consistente desde o início a crise em 2010 e alcançou 230.000 em 2011. O governo conservador de Pedro Passos Coelho aplicou vários ajustes ao complemento das aposentadorias mais baixas, o último deles, uma redução de 2,75% no limite para alcançar os 100 euros complementares.
A medida deve economizar seis milhões de euros ao Estado português, dizem as estimativas oficiais, e faz parte da bateria de cortes para cumprir os compromissos do resgate internacional a que se comprometeu Portugal em maio de 2011 para receber 78 bilhões de euros.
Para alguns aposentados, esses 100 euros são, no entanto, uma contribuição essencial para sua falta de recursos, compensada também com o apoio de organismos locais e a solidariedade vizinho. "Às vezes é essa ajuda que permite não atravessar essa frágil fronteira entre passar ou não passar fome", afirmou Basco Morgado, presidente da Junta de Freguesia (uma espécie de associação comunitária) do bairro de São José, organismo da Prefeitura de Lisboa de assistência aos moradores da região central da capital portuguesa.
O envelhecimento da população é um dos principais desafios de sua gestão, já que 53% dos 4.000 residentes de seu pequeno distrito tem mais de 65 anos.
A entidade municipal fornece comida, roupa, companhia ou "simplesmente leitura das cartas que os idosos já não conseguem mais", explicou Morgado, que diz que os atendidos são muito cuidadosos com o próprio dinheiro. "Alguns não pagaram a Seguridade Social ao longo de sua vida. Trabalharam de outras maneiras e agora recebem pensões muito baixas", lamenta.
Olívia de Jesus, de 83 anos, eventualmente vai até a sede da organização para que a ajudem a tomar banho e receber comida. Esta ex-funcionária de empresas de seguros, que também foi empregada em várias casas desde muito nova, recebe 300 euros de previdência, que "ficam no banco" para pagar as contas, afirmou.
Sem filhos ou marido, a idosa vive só e se alimenta com os dez ou vinte euros dados por uma sobrinha semanalmente."Só tomo sopas e pão com queijo ou manteiga", contou. Seus três sobrinhos já têm muitos problemas, disse, como pagar uma hipoteca enquanto lidam com o desemprego, que disparou dez pontos nos últimos três anos e ronda os 18% em Portugal.
Além da falta de recursos, Olívia se viu afetada pela nova lei de aluguéis, outra medida contemplada no programa de assistência da União Europeia (UU) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). A norma, que chega a afetar 250.000 pessoas com contratos anteriores aos anos 90, pretende subir os baixos preços dos aluguéis, que em muitos casos giram entre 50 e 100 euros.
No caso de Olívia, embora tenha precisado deixar sua casa há pouco mais de um ano, foi realocada pelos serviços assistência social em uma nova casa de menor dimensão, cujo aluguel é pago em parte por uma instituição de solidariedade.
Apesar disso, ela diz não senti-lo como um lar, mas "um galinheiro, em suas próprias palavras, enquanto reconta os móveis e lembranças que deixou na casa anterior. Os aposentados são também o alvo da reforma do Estado. Até o fim do governo, Portugal pretende economizar 4,7 bilhões de euros de maneira permanente, com medidas como a revisão do sistema de previdência, entre outras.
O Executivo de Passos Coelho aplicou em 2012 uma redução de dois pagamentos extras de funcionários e aposentados com receita maiores de 1.100 euros, mas foi cancelada finalmente pelo Tribunal Constitucional.
Olívia de Jesus, que só sorri quando se atreve a cantar fado ou lembrar de sua juventude, diz que não tem nada a pedir para o governo e só deseja "fé para todos".
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