Passado um mês da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, que foi o estopim da fase mais grave da crise financeira internacional, o mundo se volta aos efeitos mais duradouros do problema: a possibilidade, cada vez mais real, de que grandes economias venham a entrar em recessão.

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Com os grandes bancos registrando prejuízos decorrentes dos "créditos podres" do mercado imobiliário norte-americano, os recursos secaram. As instituições desconfiam da capacidade de pagamento umas das outras e quem tem dinheiro não se arrisca a emprestá-lo. Sem recursos para financiar seu crescimento, as empresas reduzem o ritmo, servindo de freio à economia.

De acordo com a maioria dos economistas, um país entra em recessão quando seu Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas do país) recua por dois trimestres consecutivos. Por essa definição, Alemanha, Itália, Japão, Irlanda, Suécia estão "a um passo" de entrar em recessão.

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Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as economias desses países se retraíram no segundo trimestre deste ano. Com o agravamento da crise financeira nos últimos meses, os dados do terceiro trimestre, que devem ser divulgados nas próximas semanas, não devem mostrar resultados animadores.

Recessão técnica

Na França, o banco central já afirmou que a perspectiva se tornou realidade: o PIB do país ficou 0,3% menor no segundo trimestre do ano, e encolheu mais 0,1% no período seguinte, configurando a recessão técnica.

Os Estados Unidos também admitem as perspectivas ruins. No início da semana, a presidente do Federal Reserve de San Francisco, Janet Yellen, afirmou que o país "parece estar em recessão", com crescimento zero no terceiro trimestre e expectativa de retração nos últimos três meses do ano. Na Alemanha, maior economia da Europa, os indicadores apontam na mesma direção.

Nos países em desenvolvimento, as projeções dão conta de que as economias continuarão crescendo, mas devem perder fôlego. O Brasil, que em 2007 teve alta de 5,4% no PIB, deve crescer 5,2% em 2008 e 3,5% no ano seguinte, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mesmo a China, sempre de crescimento acelerado, deve perder o pique e crescer 9,7% este ano, frente aos 11,9% de 2007.

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Na bolsa

Previsivelmente, esse cenário desanima os investidores – e prejudica o desempenho das bolsas de valores. Foi o que se viu na última semana, com os indicadores tão instáveis quanto uma montanha-russa. A cada novo dado negativo, um solavanco. A cada dado positivo, uma desconfiança.

Até pronunciamentos de autoridades, "programados" para acalmar os mercados, tiveram efeitos mistos. Na terça-feira (14), enquanto o presidente dos EUA, George Bush, anunciava medidas para destravar o crédito no país, as bolsas afundavam.

Há dez dias, bancos centrais de diversos países, em uma ação coordenada pelo Federal Reserve (o BC dos EUA), responderam ao enfraquecimento da atividade econômica com um corte mundial de juros. As autoridades dos EUA, Reino Unido, Europa, Canadá, Suécia, Suíça e China, reduziram as taxas, tornando os recursos mais baratos, em uma tentativa de dar fôlego ao crédito. Os mercados gostaram – mas, segundo especialistas, podem precisar de mais.

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