A crise nas economias desenvolvidas e seus efeitos sobre o crescimento global tendem a reduzir o ritmo de expansão das exportações brasileiras que, de janeiro a agosto, aumentaram 32% em relação a igual período de 2010 e atingiram patamares recordes. Trata-se de crescer menos, e não de encolher: economistas e especialistas em comércio exterior consultados pela Gazeta do Povo avaliam que, ao contrário do que ocorreu na passagem de 2008 para 2009, dificilmente haverá uma retração dos embarques no próximo ano. Essa expectativa é semelhante à do mercado financeiro, que, segundo Banco Central, projeta uma alta em torno de 9% nas vendas ao exterior em 2012.
Para os analistas, o resultado das exportações dependerá mais do comportamento da demanda internacional que do câmbio, até porque a recente alta do dólar é vista como passageira a maioria crê que cedo ou tarde a moeda voltará a rodar próximo de R$ 1,70. "O mais relevante para as exportações é o nível de demanda lá fora. Como ela está em desaceleração em várias economias, fica difícil imaginar um crescimento muito forte das exportações", diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Embora haja a expectativa de que o total exportado crescerá em 2012, há uma clara diferença entre os desempenhos esperados para as commodities e os produtos manufaturados (industrializados de valor agregado mais alto). Esse descompasso já havia sido observado em 2009, quando, sob o impacto da "primeira rodada" da crise, os embarques de manufaturados caíram muito mais (-27%) que os de produtos básicos (-15%).
É consenso que as vendas de matérias-primas agrícolas (como a soja) e minerais (principalmente petróleo e minério de ferro) vão novamente "puxar" o avanço das exportações neste ano, as vendas de produtos básicos estão 43% maiores que em 2009, contra uma alta de 20% dos manufaturados.
Se há algum consenso em relação às commodities, a demanda por industrializados e a própria competitividade da indústria estão rodeados de dúvidas. Quase certo é que o setor industrial tende a continuar perdendo espaço na pauta brasileira. "Não acho que vá haver um recuo nas vendas de manufaturados em 2012, mas sim que o crescimento deles será mais lento que o das demais categorias", diz Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria.
Vale, da MB, considera "muito difícil" que as vendas de industrializados subam. "Um câmbio um pouco mais depreciado, como vemos agora, não é suficiente para melhorar a competitividade da indústria, que enfrenta um problema estrutural muito maior, provocado, entre outras coisas, pela má infraestrutura de transportes e pelo alto custo de se produzir no Brasil."
Sinuca
Na avaliação de Carlos Eduardo Guimarães, professor de Economia da Faculdade de Educação Superior do Paraná (Fesp), nem a subida do dólar a R$ 1,80 resolve. "O real ainda está sobrevalorizado, e já se vê uma desindustrialização por causa da baixa competitividade da indústria", diz.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), arrisca que, na melhor das hipóteses, as exportações de manufaturados vão "empatar" com 2011. Culpa da "sinuca" em que a indústria se meteu: "O dólar atual não ajuda muito, mas, se ele subir, é porque a crise terá aumentado. E, se a crise tiver aumentado, a demanda internacional encolherá", explica.