
Processo começa meses antes
Nas empresas familiares e de médio porte, a maratona de abertura de capital costuma começar vários meses antes de o dono bater o sino no pregão. A fábrica começa a funcionar de fato na chamada "blindagem societária". Consultores especializados mergulham na empresa para checar uma lista com até duas centenas de questões, como os termos do acordo de acionistas e se o caixa do dono é o mesmo do da companhia.
São Paulo Os recentes tremores no mercado financeiro trouxeram uma nova preocupação para as empresas e os bancos de investimentos brasileiros. Muitos deles foram pegos no contrapé, quando se preparavam para abrir capital e vender suas ações na Bolsa de Valores. Pelas contas de Alfried Plöger, da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca), o número de estréias na Bovespa (IPOs, sigla em inglês para oferta inicial de ações) não vai mais chegar a 70, como se previa. Do início do ano até agora, foram feitas 49 ofertas.
"Mesmo que se queira, dificilmente se conseguirá vender tantos papéis", diz Plöger. Em outras palavras: "O gato subiu no telhado, nenhum banco aconselharia uma empresa a vender ações agora", diz o advogado Luiz Octavio Lopes, do escritório Mattos Filho. Para ele, a festa de dinheiro farto, que incentivou todo tipo de empresa a vender ações, perdeu o gás. "Está claro que é um novo mercado, os investidores provavelmente estarão mais seletivos e mais duros."
Ninguém sabe ao certo o quanto mudou o humor do mercado, mas, por via das dúvidas, as empresas estão pensando em planos alternativos.
É o caso da rede de supermercados G. Barbosa, do Nordeste. Seu dono, o fundo de investimentos americano Acon, estudava duas alternativas para vender a empresa: uma oferta de ações na bolsa ou uma negociação com alguma grande rede. Agora, a segunda opção ficou mais próxima. O medo dos donos do G. Barbosa é não conseguir vender a empresa na Bovespa pelo que eles acham que ela vale entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões.
A empresa de shopping centers Aliansce estava fazendo seu "road show" apresentação a investidores no dia em que as bolsas desabaram. A Aliansce cancelou os compromissos e pediu à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para interromper o processo. O pedido de abertura de capital foi suspenso por 60 dias. É tempo suficiente para avaliar se o mercado vai se recuperar ou não.
No segundo semestre do ano passado, a companhia de telefonia GVT, que tem sede em Curitiba, adiou a estréia na Bovespa deixou que a solicitação fosse indeferida. O mercado não vivia uma crise, como agora, mas na época a direção da empresa alegou que o mercado não apresentava um bom momento para abertura de capital. Um novo pedido foi protocolado em dezembro e empresa fez sua estréia na bolsa em fevereiro.
Adiar ou cancelar um processo de abertura de capital, no entanto, tem seus custos e eles podem ser ainda mais altos que se imagina. Antes da crise, havia dinheiro fácil para as empresas se prepararem. Num ambiente feroz de competição, os bancos de investimentos vinham emprestando muito dinheiro para engordar as empresas e deixá-las mais atraentes na hora de vender ações.
Esse tipo de operação é conhecida, em geral, como ponte para o IPO. Enquanto o mercado ia bem, o pagamento da dívida e das comissões dos bancos estava garantido porque era descontado do dinheiro levantado na venda de ações. O risco dessa operação é que a ponte não leve a lugar nenhum, uma vez que não haja ambiente para abrir capital. Nesse caso, as empresas podem ter dificuldade para pagar os empréstimos e os bancos ficarem com um mico em suas carteiras.
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