A crise hídrica e a necessidade de poupar reservatórios derrubaram a produção de energia hidrelétrica no Brasil. Em forte queda pelo terceiro mês seguido, a geração total dessa fonte recuou aos menores níveis desde agosto de 2019.
Em algumas hidrelétricas, a restrição é ainda maior. Em Itaipu, principal usina do país e segunda do mundo em potência instalada, a geração destinada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) é a mais baixa em pelo menos três décadas.
A Bacia do Paraná, rio que move as turbinas de Itaipu, é uma das mais prejudicadas pela estiagem. No fim de maio, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um alerta de emergência hídrica em que destacou a previsão de chuvas abaixo da média em boa parte da bacia nos próximos meses – o que reforça a necessidade de contenção no uso dos reservatórios.
Em abril, Itaipu gerou 5.048 megawatts médios (MWmed) para o SIN, menor número desde dezembro de 1992 (5.015 MWmed). A geração aumentou em maio, para pouco mais de 5,4 mil MWmed, mas despencou em seguida. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a geração de Itaipu para o sistema brasileiro neste mês de junho, entre os dias 1.º e 17, foi de 4.335 MWmed – cerca de 28% abaixo da média do mesmo mês em 2020. Trata-se de um nível inédito nos últimos 30 anos.
Segundo Rodrigo Pimenta, gerente do Departamento de Operação do Sistema da Itaipu, o envio de energia da hidrelétrica binacional ao Brasil jamais ficou abaixo de 4,5 mil MW na média mensal desde a implantação da 18.ª unidade geradora, em 1991.
Junho ainda não acabou, mas a geração na usina terá de crescer de forma consistente nos próximos dias para que a média do mês completo supere esse patamar.
A última vez que a produção mensal ficou abaixo de 5 mil MWmed foi em abril de 1992 (4.807 MWmed). "É necessário ponderar qualquer tipo de comparação, pois os níveis de produção desse período [1992] não estão associados à escassez de água", observa Pimenta.
Os dados não incluem a produção de energia vendida ao Paraguai, sócio do Brasil em Itaipu, que em geral consome menos de 15% de tudo o que é produzido pela usina.
A produção de Itaipu para o Brasil nas últimas semanas remonta à década de 1980, nos primeiros anos de operação da hidrelétrica, quando nem todas as turbinas estavam instaladas. Com capacidade máxima de 14 mil MW, Itaipu tem hoje 20 unidades geradoras, de 700 MW cada uma. Elas entraram em funcionamento aos poucos: as 18 primeiras foram acionadas gradualmente entre 1984 e 1991, e as duas últimas entraram em operação em 2007.
Em seus picos de produção, a usina binacional gerou mais que o dobro do volume atual. Segundo a base de dados do ONS, os maiores intercâmbios mensais de Itaipu com o SIN ocorreram em julho de 2012 (11.342 MWmed) e março de 2018 (11.332 MW med).
A redução na geração de energia ajudou a elevar o nível do lago de Itaipu nas últimas semanas. No fim de maio, o reservatório ocupava pouco mais de 80% da capacidade, com a superfície a 217,5 metros acima do nível do mar. Na última quinta, o lago chegou a 218,5 metros, preenchendo quase 87% da capacidade.
Crise hídrica eleva o uso de energia termelétrica – e a tarifa sobe
Em seu conjunto, a produção de todas as hidrelétricas conectadas ao SIN está em queda desde abril. Em março, melhor momento do ano, elas geraram 55.331 MW, em média. A geração caiu para 49.072 MWmed em abril, depois 45.183 MWmed em maio e agora 39.553 MW na média dos 17 primeiros dias de junho.
Para dar conta do abastecimento de energia em meio à crise hídrica, o país intensificou o uso de energia termelétrica. A produção no parque térmico nacional está em alta desde abril e, na média de 1.º a 17 de junho, chegou a 17.573 MW, segundo o ONS.
Como a energia gerada pelas termelétricas é mais cara, a tarifa paga pelo consumidor está subindo. O adicional tarifário mais alto do sistema – a bandeira vermelha 2 – está acionado desde o início do mês, e provavelmente dará lugar a uma bandeira pelo menos 20% mais cara, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A conta de luz continuará elevada até 2022, pelo menos. O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, disse ao "Valor Econômico" que as usinas térmicas devem permanecer em operação até mesmo no próximo período chuvoso, entre novembro e abril, para afastar o risco de racionamento também no ano que vem.
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