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Trabalho

Crise já afeta comportamento do desemprego, diz Dieese

O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, afirmou nesta quarta-feira que a crise financeira internacional já mudou o comportamento tradicional do desemprego no país. Segundo Clemente, a taxa de crescimento da ocupação nas sete regiões metropolitanas pesquisas pela entidade caiu, nas comparações com o mesmo mês do ano anterior, de um ritmo de 5,5% em 2010 para menos de 2% este ano.

"A tendência é de que o desemprego ainda caia neste segundo semestre, mas não com a mesma intensidade dos últimos anos", analisou. "Em junho, por exemplo, tivemos o terceiro mês consecutivo de estabilidade na taxa de desemprego, o que não é normal. Tradicionalmente, ela deveria estar caindo nesta época do ano", afirmou o diretor-técnico do Dieese, ao participar de um ciclo de seminários sobre "Progressividade da Tributação e Desoneração da Folha de Pagamento", realizado na capital paulista.

Segundo Clemente, o fato de a População Economicamente Ativa (PEA) não estar crescendo contribuiu para que o desemprego se mantivesse estável. "Considerando esse quadro, o desemprego deveria estar caindo, já que não está havendo uma pressão da PEA", disse. "O mercado de trabalho já está observando os impactos da crise", admitiu.

Clemente explicou que, para que a taxa de desemprego se mantenha estável, o nível de ocupação deve crescer por volta de 2,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior. "Embora a ocupação esteja crescendo a um nível inferior, o desemprego ainda se mantém estável porque a PEA não está crescendo e, portanto, não está pressionando o mercado de trabalho", afirmou.

Outro dado relevante citado por Clemente é a renda, que parou de crescer e em alguns setores já está caindo. "Parte disso se deve à aceleração da inflação, mas o fato é que o valor nominal da renda também não tem crescido", afirmou. "Podemos ter surpresas nos próximos meses."

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, concorda que os impactos da crise financeira internacional no País atingirão o emprego ainda neste ano. Pochmann lembra que o segundo semestre costuma ter um resultado, em termos de geração de empregos, sempre melhor que o primeiro semestre. "O segundo semestre conjunturalmente é melhor que o primeiro, então talvez ele não apresente sinais tão evidentes (de desaceleração)", observou. "Mas os dados do comércio e da indústria já mostram um ritmo de crescimento do emprego muito próximo a zero."

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