Sanches, que já foi e voltou oito vezes do Japão, diz que situação no Oriente nunca foi tão crítica| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Cerca de 50 mil dos brasileiros que viviam no Japão retornaram para o Brasil desde o início da crise econômica mundial, em setembro de 2008. Os dados são do Banco do Brasil em Tóquio e não são confirmados pelo Ministério das Relações Exteriores, mas mostra a situação delicada que os dekasseguis estão atravessando no Japão. Estima-se que, em meados do ano passado, existiam cerca de 317 mil brasileiros morando no país, mas essa população pode encolher para menos de 250 mil pessoas até o fim de 2009.

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Preocupado com o desemprego crescente no país, o governo japonês lançou no início de abril um pacote de ajuda a imigrantes que inclui medidas como aprimoramento profissional, cursos de japonês e inclusão de tradutores de português nas agências de emprego. O item mais polêmico, no entanto, é a ajuda de custo no valor de aproximadamente US$ 3 mil para dekasseguis desempregados que desejam retornar ao Brasil, além de US$ 2 mil por dependente.

Segundo a proposta do governo, ao aceitar o auxílio, o imigrante fica impedido de retornar ao Japão com visto de trabalho. Essa medida gerou vários protestos entre os descendentes e órgãos governamentais. De acordo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, existem negociações com o governo japonês para que a suspensão do visto seja temporária e não permanente.

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Para Cláudio Suzuki, presidente da ONG Tomadoti, em Maringá, que auxilia os brasileiros que retornam do Japão, as medidas adotadas prejudicam os dekasseguis. "Somente para a região Norte e Noroeste do Paraná, devem retornar, até o fim do ano, cerca de 3 mil descendentes, mas a maioria quer voltar ao país quando a crise acabar", ressalta.

Recentemente o ministro de Política Econômica e Orçamentária do Japão declarou que o país enfrenta a pior crise desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Isso porque a crise atingiu em cheio uma das principais bases da economia japonesa, que são as indústrias automotiva e eletroeletrônica. No último trimestre de 2008 o país apresentou uma retração no PIB de 3,3%, o equivalente a um encolhimento de 12,7% na taxa anualizada, o pior resultado desde a crise do petróleo, em 1974.

Apesar do pessimismo, o presidente do Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior (Ciate), Masato Ninoniya, não aconselha a volta dos brasileiros que estão no Japão. "O país está oferecendo auxílio àqueles que lá estão. Eu acredito que essa crise é passageira, em breve o país deve se recuperar", afirma.

Histórias tristes

Há quem não acredite que a crise seja passageira. Muitos são os relatos de brasileiros que passaram por situações difíceis no Japão e resolveram voltar à terra natal. Luciano Kondo Sanches, de 36 anos, voltou para Maringá há um mês, antes de ficar desempregado. "Se eu tivesse esperado mais um pouco estaria procurando emprego agora", disse ele. Desde 1991, ele já foi para o Japão e voltou oito vezes. Na última, ficou no país um ano e meio e disse que a situação nunca esteve tão crítica.

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Sanches contou o drama de alguns amigos que trabalhavam com ele no ramo de autopeças e que ainda estão lá. "Depois de um mês sem emprego, a empreiteira (que contrata os imigrantes) pede para desocupar o apartamento. O aluguel representa um terço do salário e quem não tem um amigo (para conseguir um abrigo) nessas horas vai passar dificuldades", explicou. "Eu aceitaria a proposta só em último caso, pois é uma porta que se fecha", disse em relação ao auxílio oferecido para o retorno ao Brasil.

Outro caso é de Renato Shimabukuro, 28 anos, natural de Cornélio Procópio (Norte Pioneiro), que também voltou ao Brasil recentemente. "No início do ano as vendas começaram a cair e a empresa cortou as horas-extras. Muitas companhias começaram a baixar os salários dos funcionários. Estávamos em uma situação que não dava mais para pagar as contas e guardar dinheiro, por isso resolvi voltar. Não valia o sacrifício", afirmou Shimabukuro.

Quem fica

Mesmo quem fica e tem mais condições de se manter durante o período de crise não está imune aos impactos. Eloise Flávio Sakiyama, 25 anos, mora na província de Ibaraki há 14 anos e, apesar de estar desempregada desde janeiro, não tem intenção de voltar ao Brasil. Ela explica que sempre teve trabalho garantido em função de conhecer o idioma. De acordo com Eloise, as agências que oferecem vagas costumavam dispor de pelo menos 15 oportunidades, mas agora essa situação mudou. "Não há mais opções. As que existem não são para estrangeiros", disse.

Os pais da jovem, embora autônomos, também foram afetados. Eles são proprietários de uma escola para brasileiros, e o número de alunos está encolhendo. Alguns estão indo embora e outros não podem mais arcar com os custos de educação. Os Sakiyama, assim como todas as famílias brasileiras, receberam em casa um folheto em português explicando como deveriam fazer para ter acesso à ajuda do governo para voltar para casa.

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