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Crise na Argentina já afeta turistas

Avenida Corrientes, no centro de Buenos Aires. Dados oficiais apontam inflação de 10% para 2013; mercado indica 25% | Cristina Rios/ Gazeta do Povo
Avenida Corrientes, no centro de Buenos Aires. Dados oficiais apontam inflação de 10% para 2013; mercado indica 25% (Foto: Cristina Rios/ Gazeta do Povo)

Tomar um café expresso em Buenos Aires pode significar ter de desembolsar 22 pesos, o que equivale a R$ 8, mais que o dobro do que se paga em uma cidade como Curitiba. A diferença mostra como a inflação argentina vem causando estragos e engolindo a vantagem cambial entre o real e o peso, que costumava fazer a farra das compras dos brasileiros há alguns anos. "Os preços sobem toda a semana. As pessoas estão mais pobres", diz o taxista que faz o percurso entre o aeroporto de Ezeiza e o centro da capital, uma distância de 30 quilômetros, que não sai por menos de 240 pesos.

Segundo dados oficiais, a inflação da Argentina em 2013 será de cerca de 10%, apesar de as estimativas de consultoras privadas apontarem para 25%. A inflação é apenas um dos problemas econômicos da Argentina, envolvida ainda em um processo de reestatização de concessões, aumento de medidas protecionistas, congelamento de preços nos supermercados, controle de dólares e rebaixamento pelas agências de classificação de risco. O país também tenta, pela terceira vez, renegociar sua dívida, de mais de US$ 100 bilhões, fruto da moratória decretada em 2001.

"A Argentina tem problemas estruturais, provocados pela insegurança fiscal, dificuldades para financiar sua dívida, déficit na balança de pagamentos e um câmbio paralelo que ajuda a impulsionar a inflação. Hoje fazer uma compra no supermercado, que em Curitiba custaria R$ 30, em Buenos Aires sai por R$ 50", diz Masimo Della Justina, professor de economia da PUCPR.

A complicada situação do vizinho do Sul vem afetando não apenas a vida dos turistas brasileiros na capital portenha. Terceiro destino das exportações brasileiras, a Argentina reduziu em 20,75% as compras de produtos do Brasil em 2012, para US$ 17,99 bilhões. Em 2013, as exportações vem se recuperando, com crescimento de 8,39% de janeiro a agosto, para US$ 13 bilhões. Além de parceiro no comércio exterior, o país concentra duas centenas de filiais de empresas com matriz no Brasil. Parte delas teve os investimentos frustrados no país vizinho. Em junho, a América Latina Logística (ALL) teve de devolver a concessão da sua malha ferroviária de 8 mil quilômetros por conta da reestatização promovida pelo governo de Cristina Kirchner.

A Vale suspendeu, em março, um projeto de extração de potássio em Mendoza, depois de ver seus custos aumentarem agressivamente de US$ 6 bilhões para US$ 11 bilhões. A Deca, do grupo Duratex, fechou as portas da subsidiária que mantinha em Buenos Aires.

Segundo Roberto Zurcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), mesmo as empresas argentinas vêm pensando em abandonar o barco no país e transferir operações para o Brasil. "Entre o fim de 2011 e o início de 2012 recebemos vários empresários argentinos interessados em mudar para o Sul do país. E a situação, na época, nem estava tão ruim como agora", diz.

Risco faz Standard & Poor’s rebaixar nota do país

Um sinal de piora das condições da Argentina veio com a decisão recente da Standard & Poor’s (S&P) de rebaixar os ratings de longo prazo em moeda local e estrangeira da Argentina de B- para CCC+, com perspectiva negativa.

Segundo a agência, a nota foi rebaixada por conta do risco do serviço da dívida, em função da disputa na Justiça dos EUA sobre os bônus que o país não pagou após o calote de 2001.

Os ratings de curto prazo foram rebaixados de B para C, e o de transferência e conversibilidade foi cortado de B- para CCC+. Censura do FMI

Acusado de manipular os dados de inflação, o governo argentino tem até o fim deste mês para elaborar um novo índice para medir o reajuste de preços. Por causa das críticas a esses dados oficiais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) impôs em fevereiro uma censura ao país, em um fato inédito na história do organismo.

A entidade multilateral ameaçou o governo de Cristina Kirchner de sancionar o país com a perda do acesso a créditos ou do direito a voto (a Argentina não tem créditos atualmente com o organismo) se não reformasse as estatísticas de inflação antes do final de setembro.

A medida levou o ministro argentino da Economia, Hernán Lorenzino, a se reunir com técnicos do FMI para elaborar um novo índice de preços ao consumidor nacional e urbano (IPC), que deve ser apresentado pelo governo no último trimestre do ano.

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