Rio de Janeiro - A crise econômica atingiu principalmente a população de maior renda, e não interrompeu o processo de expansão da classe média brasileira. A constatação é de um estudo feito pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que comparou dados de julho de 2008 e julho de 2009 da Pesquisa Mensal do Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o estudo, a virada econômica dificultou o acesso e a permanência nas classes mais altas (A e B), mas, por outro lado, os mais pobres (D e E) mantiveram a mobilidade em direção à classe C.
A classe C (renda domiciliar entre R$ 1.115 e R$ 4.807) cresceu 2,5% no período avaliado, principalmente pela ascensão de pessoas das classes mais baixas. Com isso, em julho passado 53,2% de toda a população brasileira pertencia à classe C. Em janeiro, a classe média parecia entrar em processo de encolhimento, depois de ter chegado a representar 53,81% do total da população em dezembro. No primeiro mês deste ano, essa proporção encolheu para 52,64%, mas, a partir de então, retomou a expansão.
O conjunto das classes A e B (renda superior a R$ 4.807) recuou 0,5%, e passou a representar 14,97% da população brasileira. A classe D (renda entre R$ 804 e R$ 1.115) diminuiu 4,1% em relação a julho do ano passado, significando 13,51% dos brasileiros, ao passo que a classe E (renda inferior a R$ 804) apresentou recuo de 3,3% em um ano, passando a representar 18,32% da população.
"No período pré-crise, em cinco anos, houve um crescimento da classe AB de 35%, e da classe C de 23%. No pós-crise, a boa notícia é que houve algumas perdas iniciais que já fora recuperadas. Hoje, a classe AB está 0,5% abaixo de um ano atrás, e a classe C está 2,5% acima. Ou seja, a crise não afetou o bolso do brasileiro comum, avaliou o coordenador do estudo, Marcelo Neri. Ele observou que, entre 2003 e 2008, 27 milhões de pessoas "meia França", salientou foram incorporadas ao conjunto das classes A, B e C, e 24 milhões deixaram a pobreza.
Periferias
O estudo também revelou que as chamadas periferias mantiveram um bom ritmo de atividade econômica durante a crise, e foram menos afetadas que os grandes centros urbanos. Segundo Neri, o fato de esses lugares estarem menos ligados a fatores externos são menos dependentes das exportações e desconectados da influências dos mercados financeiros contribuiu para o bom desempenho. Além disso, as periferias se beneficiaram da renda da população mais pobre, que continuou movimentando o comércio e os serviços, segundo o especialista. "O mercado interno foi um verdadeiro Pelé contra a crise."