O cenário de crise vivido pelas empresas aéreas brasileiras em 2015, e que deve prosseguir neste ano, intensificou a mobilização do governo federal e entidades do setor para a implantação de medidas que possam aliviar o caixa das companhias. Segundo balanços financeiros compilados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as quatro maiores empresas do setor – Gol, TAM, Azul e Avianca – amargaram um prejuízo líquido de R$ 3 bilhões nos primeiro nove meses do ano passado. Com a demanda doméstica de passageiros despencando no último trimestre, a expectativa é que o rombo aumente ainda mais após a divulgação dos números anuais.
INFOGRÁFICO: Veja gráfico que mostra a queda na oferta e na demanda por passagens aéreas
Os últimos meses de 2015 marcaram o fim de um ciclo de crescimento do setor no mercado doméstico – em dezembro, a demanda de passageiros registrou o quinto mês seguido de queda, após um período de 22 meses de alta. A diminuição brusca no número de viajantes já seria motivo suficiente de preocupação para as companhias, mas foi acompanhada, ao longo do ano, pela valorização do dólar, que chegou perto de 50%.
“Uma companhia aérea tem boa parte dos passivos em moeda estrangeiras, enquanto a maior parte da receita vem da moeda nacional, o que gera por aqui um impacto na despesa financeira devido à desvalorização do real. Nem mesmo a redução no preço do barril de petróleo, que influencia no valor do combustível de aviação, foi percebida no custo final das empresas”, explica Marcio Peppe, sócio da KPMG no Brasil.
Entre as medidas em estudo para tentar reverter, ou ao menos amenizar, o prejuízo das aéreas, está a possibilidade de companhias estrangeiras poderem deter até 100% do capital de uma empresa brasileira – hoje, essa fatia está restrita a 20%. A notícia de que o governo federal pretende apresentar um projeto de lei sobre o tema ao Congresso, divulgada no início do mês pelo jornal Valor Econômico, fez com que as ações da Gol disparassem 50%, corroborando a avaliação de que a empresa, que tem como sócios a Delta Air Lines e a Air France, seria a mais beneficiada pela mudança.
“O fato de se discutir a ideia já é um avanço, uma mostra de boa vontade por parte do governo. Mas, como isso passa necessariamente por uma alteração na legislação e aprovação do Congresso, é difícil dizer se será colocada em prática em breve”, afirma Peppe.