O acidente com o Airbus A-320 da TAM, em São Paulo, é visto por analistas como um potencializador dos efeitos danosos que o caos aéreo vinha provocando na imagem e na economia do Brasil. Os prejuízos atingem, além do setor de transporte de passageiros, o transporte de cargas e o seguro dessas mercadorias. O setor privado poderá rever a decisão de investir no país e a soma desses fatores pode até implicar em nova escalada do risco-país, que vem sendo reduzido gradualmente há alguns anos.

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De acordo com o diretor da Rosenberg & Associados José Augusto Savasini, apenas economistas com visão de longo prazo estão preocupados com as conseqüências da falta de investimentos na infra-estrutura brasileira. "Enquanto a equipe econômica fica discutindo se a meta da inflação para os próximos anos será 4% ou 4,5%, temos muitos problemas sérios para enfrentar, como a taxa de desemprego alta e todos os problemas de logística", diz.

Segundo ele, o caos aéreo tem repercussão maior, mas o transporte de cargas rodoviário também merece atenção. "O setor público não investe em infra-estrutura e os industriais começam a se questionar se vale a pena investir." O perigo, alerta, é o aumento dos custos logísticos, que podem influenciar o crescimento do Brasil.

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Um dos efeitos imediatos que um acidente como o ocorrido terça-feira em São Paulo causa é o aumento no custo do seguro das cargas. "O problema é a reincidência. Foram dois acidentes graves em menos de um ano. Qual é a seguradora que vai correr o risco de cobrir uma carga em uma região na qual não existe segurança aérea?", questiona a professora de Economia da FGV Celina Martins Ramalho. Segundo ela, esse quadro coloca em xeque o padrão de crescimento esperado para os próximos anos.

Além dos efeitos no curto prazo, a crise aérea também interfere na classificação do Brasil, que está perto de conseguir o grau de investimento "investment grade", concedido por agências de risco com base em indicadores econômicos. "Indiretamente, o caos aeroportuário influencia o risco-país. As relações comerciais, os negócios que deixam de ser feitos porque um empresário não vai viajar de avião, não vai em outro lugar pessoalmente, provocarão efeitos a partir do médio prazo", avalia Celina.

Há discordância. O chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Curado, acha que a crise aérea e os acidentes recentes não devem interferir na classificação de risco do Brasil. "Esse é um fenômeno global. Os mercados emergentes se tornaram mais seguros. Como os indicadores econômicos do Brasil estão positivos e as reservas internacionais, elevadas, não deve ocorrer mudanças, a não ser que toda a infra-estrutura portuária entre em colapso", pondera.

Mas ele considera que a imagem do país já está bastante prejudicada. "Houve um impacto forte no fluxo de turismo estrangeiro no Brasil e a maioria dos hotéis do Nordeste está com problemas, principalmente pelos transtornos nos aeroportos, que ocorrem há quase um ano." Segundo ele, é difícil mensurar o prejuízo causado pela crise aérea na economia, mas ele será muito forte.

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Paraná (Abav-PR), Antônio Azevedo, diz que o acidente da TAM provoca redução imediata na compra de passagens aéreas, mas o problema principal é a falta de investimentos em infra-estrutura. "O acidente causa um trauma grande, mas as pessoas acabam entendo que é uma fatalidade e tendem a retornar. Mas tudo isso mostra a necessidade de o governo adotar uma nova política para o setor", observa.

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