A crise já obrigou 72,4% dos curitibanos a mudarem hábitos de consumo por conta da alta dos preços, do desemprego e da queda na renda. É o que mostra o levantamento exclusivo feito pelo Paraná Pesquisas, a pedido da Gazeta do Povo. Para contornar a recessão, 36% dos moradores da capital optaram por cortar algum gasto mensal (como academia e telefone celular) e outros 33,8% dizem ter diminuído gastos com lazer. Parte dos curitibanos também está deixando de fazer algumas compras (25,8%) ou está saindo menos para jantar ou almoçar (24,4%).
INFOGRÁFICO: saiba como os curitibanos estão agindo para economizar
Essa mudança no comportamento dos consumidores está sendo sentida pelos comerciantes da cidade. “As vendas diminuíram bastante. Não sei se é porque vendemos bolsas e relógios e não itens de primeira necessidade, mas sentimos muito a queda no movimento. As pessoas estão economizando”, diz Luzia Lima Cardoso, proprietária de uma loja de acessórios no Centro de Curitiba.
Cléber Cardoso, dono de uma loja de games e peças de computador, afirma que a busca por serviços de assistência é o que tem mantido o faturamento mensal do estabelecimento. “Parece que ninguém quer se comprometer. Antes muita gente apostava no parcelamento do cartão. Agora não. Todo mundo está comprando menos, quer pagar à vista e desconto”, diz.
GALERIA DE FOTOS: consumidores e empresários relatam suas impressões sobre a crise
A inflação é apontada como o maior problema da economia por 34,2% dos curitibanos. Não é para menos: a capital tem hoje a maior taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre as capitais, chegando a 11,06% nos últimos 12 meses até agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mês passado, o índice de 0,47% registrado na região de Curitiba foi mais que o dobro do 0,22% encontrado no país.
“Agora a cliente vem e compra um xampu mais barato e não aquele mais caro que ela estava acostumada a levar. Ou está espaçando mais entre uma pintura de cabelo e outra. A gente sentiu essa mudança”, afirma Joana Neves, gerente de uma loja de cosméticos no calçadão da Rua XV de Novembro.
A alta de preços no mês em Curitiba foi influenciada por uma elevação forte nos custos da alimentação fora do domicílio (0,90%), artigos de residência (0,81%), serviços pessoais (0,77%) e educação (0,93%). No ano, o grupo com maior alta de preços é o de combustíveis e energia (55%), seguido de alimentação no domicílio (10,71%) e móveis e utensílios (8,67%).
“A gente vai ao mercado e sente muito a alta dos preços. Está muito difícil. Eu tento economizar de todas as formas, mas a principal é buscando marcas mais baratas do que aquelas que eu gostava de comprar. Não tem jeito”, conta a dona de casa Ivone Rudnick.
Freio puxado
Depois da inflação, os outros aspectos da crise considerados graves pelos curitibanos são o governo gastar mais do que arrecada (17,6%), o desemprego (17,3%) e a falta de confiança (16,7%).
Na opinião do estudante Juan Victor Fernandes o momento só permite a compra de itens básicos. “Eu só compro agora quando realmente estou precisando. Não dá para esbanjar. E tem de ir atrás do melhor preço, pesquisar mesmo”, afirma.
Grande maioria dos entrevistados é contra nova alta de impostos para cobrir contas
Na avaliação de 75,2% dos curitibanos, o momento da economia está ruim ou péssimo e sem perspectiva de melhora, já que 54,8% consideram que o futuro será ruim ou péssimo e 32,9% regular. Apenas 11,5% dos moradores da capital acham que há boas ou ótimas perspectivas para a economia.
Para 75,4%, a reação do governo para conter a crise é considerada ruim ou péssima, enquanto 20,9% avaliam a postura do Planalto como regular. Novamente, o índice que faz uma avaliação positiva da postura do governo é baixo (2,7%).
A pesquisa mostra também que os moradores da capital parananese não estão dispostos a encarar uma nova alta de impostos: 95,6% não apoia a ideia de um aumento nos tributos para cobrir o déficit público.
Com relação ao apoio ou não sobre a possibilidade de haver uma idade mínima para a aposentadoria – de 60 anos para as mulheres e 65 para os homens – os curitibanos estão mais divididos: 56,2% não apoiam, enquanto 41,6% concordam. (TBV)
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