A deterioração ainda maior e rápida do ambiente político está preocupando economistas, mas no cenário básico da maioria das instituições financeiras ainda não está prevista uma eventual ruptura política, como impeachment ou renúncia da presidente Dilma Rousseff. A própria velocidade do processo de piora da governabilidade dificulta a inserção dessa possibilidade nas análises e estimativas. Apesar de afirmarem que alguns eventos apontam nessa direção, os analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, não veem um rompimento no curto prazo.
O sentimento de agravamento foi percebido na semana passada no mercado, depois de declarações do vice-presidente, Michel Temer, e de dois partidos da base aliada do governo Dilma (PDT e PTB) anunciarem que não mais vão acompanhar o governo automaticamente nas votações. “É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o país”, disse Temer.
“O Temer já está convocando a Nação à unidade, mas até mesmo pela velocidade do processo de deterioração do cenário político não sei lidar com isso”, admitiu o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, o economista e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman. Ele diz não ter imputado ainda uma ruptura política no seu cenário básico pelo simples fato de não saber como fazer essa incorporação.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a indicação de que o mercado está aguardando ainda para agosto um evento político de grande monta é a subida da parte longa da curva de juros. “Não dá para falar em impeachment, mas estou muito preocupado com os desdobramentos políticos sobre a economia no curto prazo”, disse o economista. O analista-chefe da CM Capital Markets, Marco Aurélio Barbosa, discorda. Na sua avaliação, o risco de mudanças drásticas no cenário político brasileiro não está precificado nos ativos e a pressão atual está mais associada à chance de perda do grau de investimento.
“O governo deve conseguir contornar a atual crise, mas com um custo muito maior, inclusive do ponto de vista fiscal”, ponderou. Barbosa estima que a valorização do dólar ante o real pode afastar um pouco o risco fiscal nos próximos meses por contribuir para a geração de superávit comercial.
O diretor para mercados emergentes do Eurasia Group, Christopher Garman, concorda com Barbosa sobre a atenção do mercado estar voltada para o risco de rebaixamento. Ainda assim, avalia que um certo grau da instabilidade política e dos desdobramentos do ajuste fiscal no Congresso começam a ser incorporados nos preços dos ativos. “Acho que o mercado ainda não se deu conta plenamente do que está em jogo. Não é perder grau de investimento. É muito mais que isso”, afirmou.
No cenário atual da Eurasia está embutido 30% de chance de impeachment e 15% de chance de a presidente terminar o segundo mandato em meio a uma crise de governabilidade e desarranjo fiscal “mais sério”. O porcentual maior, de 55% ainda é atribuído à possibilidade de a presidente Dilma terminar seu mandato em 2018 tendo reveses parciais nos próximos seis meses, com a crise se aprofundando, mas sem espaço para impeachment.
O cientista político baseado em Washington avalia que alguns subestimam os riscos ao considerar que a saída de Dilma da Presidência estancaria a crise econômica. “Um processo que levaria ao impeachment é extremamente doloroso, com forte polarização política e pode não ser rápido”, ponderou.
“O efeito da crise política na economia é dramático pela incapacidade do governo controlar a base aliada e pela perda de credibilidade do gestor econômico”, acrescentou o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud. “Já estou considerando a ruptura no meu cenário principalmente depois da pesquisa de avaliação do governo mostrando que 71% da população reprovam a presidente e que 66% querem a sua saída”, disse.
Na Tendências Consultoria Integrada, o cenário base não contempla qualquer chance de impeachment da presidente Dilma. Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria, reconhece que o risco de uma ruptura política tem aumentado, mas não a ponto de se tornar o quadro mais provável. Ainda assim, adiantou que a consultoria está construindo um cenário alternativo a ser anunciado na próxima semana e que pode trazer um risco de até 30% de impedimento.
Os analistas econômicos avaliam que no caso de uma ruptura política realmente se concretizar as incertezas sobre os rumos do País seriam tão grandes que o dólar subiria a R$ 4,00, patamar atingido em 2002, às vésperas da primeira eleição do ex-presidente Lula. “Hoje, o dólar a R$ 3,50 está barato”, comentou um profissional de uma instituição global, acrescentando que “a agenda negativa tomou conta do parlamento, a perda do grau de investimento pode ocorrer ainda neste ano”.
Gestores internacionais destacaram também ao Broadcast que a popularidade em um dígito da presidente Dilma não ajuda e acreditam que as forças da oposição aproveitam esse momento para tentar enfraquecê-la ainda mais no Congresso. Por isso mesmo, avaliam que a reprovação das contas do Poder Executivo de 2014 pode ser um motivo para retirar a presidente do Palácio do Planalto. “Uma queda de presidente eleita é um evento muito forte e seria muito mal interpretado por investidores estrangeiros e nacionais”, comentou a fonte.
Uma pergunta que todos se fazem é sobre a formação de um novo governo, em caso de uma eventual saída de Dilma. “Quem seria o ministro da Fazenda, Joaquim Levy?”, questionou uma fonte. “E se mudar o ministro, qual será a nova equipe econômica?