São Paulo (Folhapress) A divulgação de resultados e projeções econômicas favoráveis mostrou ontem não ser mais suficiente para evitar dias de alto nervosismo no mercado financeiro. Sem conseguir mais se isolar da crise política, o dólar teve sua maior alta em quase 14 meses e foi a R$ 2,462. A Bovespa registrou seu terceiro pior pregão do ano, com queda de 3,39%.
A insatisfação com a postura do governo, que, segundo analistas, não está conseguindo se defender da enxurrada de acusações que o aflige com mais intensidade desde o início de junho, a ordem no mercado passou a ser de comprar dólares à espera de dias piores.
"O governo não conseguiu conter a crise, e isso tem se tornado um problema maior a cada dia aos olhos dos investidores'', diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe no Brasil do banco francês BNP Paribas. "E entendo que a correção [dos preços dos ativos] ainda não acabou'', completa.
O dólar subiu 2,67%, acentuando uma tendência verificada nos últimos dias. De segunda-feira passada até ontem, a moeda se valorizou 5,30% diante do real. Ontem o dólar atingiu seu maior valor (R$ 2,462) desde 10 de junho.
A piora do humor dos investidores fez com que só quatro das 55 ações que formam o Ibovespa (principal índice da Bolsa paulista) fechassem em alta. No pregão da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dia também foi agitado. O número de contratos DI (que refletem as projeções futuras de juros) negociados aumentou 29% e foi a 779 mil. E os juros futuro subiram.
Mesmo com a queda na projeção mediana do IPCA (índice oficial de inflação), as taxas futuras não escaparam da tensão. Para os analistas mais pessimistas, isso significa que o mercado começa a achar que a taxa básica (Selic, que está em 19,75%) demore mais para começar a cair e que os juros possam estar acima dos 18% (projeção média do mercado) no fim de 2005. No contrato DI que vence daqui a 18 meses, a taxa saltou de 17,84% na sexta-feira para 18,11% ontem. No papel com resgate daqui a 12 meses, a taxa foi de 18,21% para 18,46%.
"O desempenho do mercado reflete a insegurança cada vez maior em relação à piora do quadro político. Se o governo não encontrar uma forma efetiva de se defender, a tendência é esse cenário de estresse prosseguir'', afirma Adolpho Nardy Filho, diretor de operações e finanças do banco Cruzeiro do Sul.
Nas mesas de operações dos bancos ontem, um dos assuntos foi o editorial do jornal inglês "Financial Times'', que destacou a crise política. O temor dos investidores é o de que, aos olhos dos estrangeiros, as turbulências no campo político ganhem maiores proporções. O risco-país brasileiro chegou ao fim do dia a 421 pontos, alta de 1,20%. O Global 40, título da dívida brasileira mais negociado no exterior, caiu 1,50%.
Na sexta-feira, o banco de investimento norte-americano Merrill Lynch reduziu de "acima da média do mercado'' para "na média do mercado'' a participação de títulos brasileiros em seu portfólio. E demonstrou preocupação com a evolução da crise para justificar a decisão.
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