Com o impacto da crise e da valorização do real, as exportações brasileiras tiveram em 2009 o maior recuo em um ano desde 1950, quando começou a série histórica do Ministério do Desenvolvimento sobre o comércio externo do país. Os embarques recuaram 22,2% em relação a 2008, o que levou a balança comercial a apresentar o menor saldo dos últimos sete anos: US$ 24,6 bilhões.Afetadas pela redução das vendas de produtos manufaturados, as exportações somaram US$ 152,2 bilhões em 2009, ficando abaixo dos US$ 160 bilhões projetados pelo governo. Até agora, a maior queda das exportações brasileiras tinha sido registrada em 1952, quando foi de 19,8%. A queda do superávit comercial em 2009 só não foi maior porque o Brasil também importou menos: R$ 127,63 bilhões, com recuo de 25,3% em relação a 2009. Os dados anuais regionalizados ainda não foram divulgados, mas até novembro o comércio exterior do Paraná apresentava quedas acima da média nacional.
Com essa combinação de fatores negativos, a corrente de comércio do país teve uma retração de 23,6%, para US$ 280 bilhões. Esse indicador econômico mostra a soma das exportações com as importações e representa o grau de internacionalização da economia. Em 2008, a corrente de comércio havia crescido 31,95%, chegando a US$ 371 bilhões.
Básicos
Grande compradora de produtos como soja e minério de ferro, a China assumiu o posto de maior mercado de produtos do Brasil, tomando o lugar dos Estados Unidos. Com isso, a participação de produtos manufaturados na pauta de exportações, que já chegou a representar mais de 50%, fechou o ano em 43,7%. Já a participação dos itens básicos, como metais e alimentos, subiu de 36,9% para 40,7%."É preocupante a queda dos manufaturados", salientou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Os embarques desses produtos em 2009 recuaram 27,3% em relação a 2008, bem mais do que os 14,1% de queda nas vendas dos básicos e de 23,4% de semimanufaturados. A recuperação de vendas de manufaturados, segundo ele, vai depender da retomada das economias que mais compram do país, como os EUA. Ele estima que, em 2010, as exportações terão expansão de 10%, chegando a US$ 168 bilhões.
Apesar de afirmar que 2010 será um ano melhor para as exportações, Barral listou três grandes obstáculos à retomada das vendas externas: a competitividade dos mercados compradores (o problema do câmbio); a carga tributária elevada e o próprio comportamento da economia doméstica, que continua aquecida e absorvendo boa parte da produção.
"Se além do câmbio, você coloca imposto em cima, não tem condições de exportar mais", diz Barral. Sem solução concreta à vista, já que a reforma tributária não será aprovada neste ano, o secretário disse que o governo vai investir em acordos bilaterais. Há também a intenção de ampliar o regime de drawback (isenção de impostos para insumos usados na produção de bens exportáveis).
Barral considerou normal a queda nas importações e positivo o saldo comercial de 2009, lembrando que foi um ano de crise. Enfatizou ainda que o superávit poderá se igualar ao registrado em 2008, que foi de US$ 24,956 bilhões. O valor será aumentado em cerca de US$ 300 milhões, devido a exportações de energia elétrica para a Argentina que ficaram de fora do balanço, explicou.Para este ano, no entanto, o cenário não é tranquilizador. Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, o descompasso entre o ritmo de crescimento da economia brasileira e o de importantes parceiros deve derrubar pela metade o superávit em 2010, para US$ 12,23 bilhões. "A expansão do PIB, em torno de 5%, certamente será o principal fator de impacto no aumento das importações, diz.