No Paraná, retração foi maior
A freada do comércio internacional foi mais intensa no Paraná do que na média nacional. As exportações do estado recuaram 27%, enquanto as importações caíram 35%, no acumulado de janeiro a novembro de 2009. Os números são reflexo de uma pauta de exportação menos diversificada, concentrada no agronegócio mais de 45% dos embarques paranaenses são de carnes e de produtos originados da soja, enquanto esses dois grupos representam menos de 20% da pauta brasileira.
No entanto, a mesma vocação para o agronegócio que colocou o estado em desvantagem no ano passado tem boas chances de inverter o jogo em 2010. "Com o arrefecimento da crise e retorno da demanda, está se percebendo uma recuperação internacional mais rápida na parte de alimentos, e mais lenta nos bens duráveis, como automóveis e produtos de linha branca", destaca o professor do departamento de economia da UFPR, Luciano Nakabashi.
O consumo de alimentos é puxado pelos emergentes China e Índia, países com população superior a um bilhão e que estão mantendo o ritmo de crescimento. "Com o aumento gradual da riqueza e do poder de compra das classes médias desses países, eles vão puxar a demanda por carnes e outros alimentos mais caros."
O coordenador do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Maurílio Schmitt, considera que os dois países asiáticos são exceções, mas confirma que as perspectivas positivas de safra em 2010 podem fazer com que o Paraná melhore seus indicadores de comércio internacional frente à média brasileira. "O mesmo fator que depreciou 2009 pode melhorar 2010, uma vez que a previsão de safra é positiva", diz.
O Indicador Safra da RPC prevê área recorde de plantio de soja (4,43 milhões de hectares), e produtividade equivalente às safras 2006/2007 e 2007/2008. O cenário internacional também aponta retomada nos preços: após sofrer queda de 21% em 2008, a soja fechou 2009 com aumento de 7%. O preço milho, que também tem força no estado e influencia a produção de carnes, caiu 12% em 2008 e subiu 1% em 2009 na Bolsa de Chicago (CBOT).
"Mas a receita com o agronegócio poderia ser ainda maior se tivéssemos mais juízo. Ainda não aprendemos a processar o produto antes de exportar, ou seja, continuamos sendo exportadores de matéria-prima e importadores de manufaturados com maior valor agregado", destaca Schmitt. Ele cita como exemplo a China, principal parceiro comercial do Paraná, que dos US$ 1,2 bilhão importados do estado no acumulado de 2009, cerca de US$ 950 milhões foram em grãos de soja.
O professor Nakabashi destaca ainda que a pequena diversificação da pauta exportadora não é exclusividade paranaense. "A concentração de mercados é comum a quase todos os estados brasileiros, que se especializaram em determinados produtos", diz.
André Lückman
Com o impacto da crise e da valorização do real, as exportações brasileiras tiveram em 2009 o maior recuo em um ano desde 1950, quando começou a série histórica do Ministério do Desenvolvimento sobre o comércio externo do país. Os embarques recuaram 22,2% em relação a 2008, o que levou a balança comercial a apresentar o menor saldo dos últimos sete anos: US$ 24,6 bilhões.Afetadas pela redução das vendas de produtos manufaturados, as exportações somaram US$ 152,2 bilhões em 2009, ficando abaixo dos US$ 160 bilhões projetados pelo governo. Até agora, a maior queda das exportações brasileiras tinha sido registrada em 1952, quando foi de 19,8%. A queda do superávit comercial em 2009 só não foi maior porque o Brasil também importou menos: R$ 127,63 bilhões, com recuo de 25,3% em relação a 2009. Os dados anuais regionalizados ainda não foram divulgados, mas até novembro o comércio exterior do Paraná apresentava quedas acima da média nacional.
Com essa combinação de fatores negativos, a corrente de comércio do país teve uma retração de 23,6%, para US$ 280 bilhões. Esse indicador econômico mostra a soma das exportações com as importações e representa o grau de internacionalização da economia. Em 2008, a corrente de comércio havia crescido 31,95%, chegando a US$ 371 bilhões.
Básicos
Grande compradora de produtos como soja e minério de ferro, a China assumiu o posto de maior mercado de produtos do Brasil, tomando o lugar dos Estados Unidos. Com isso, a participação de produtos manufaturados na pauta de exportações, que já chegou a representar mais de 50%, fechou o ano em 43,7%. Já a participação dos itens básicos, como metais e alimentos, subiu de 36,9% para 40,7%."É preocupante a queda dos manufaturados", salientou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Os embarques desses produtos em 2009 recuaram 27,3% em relação a 2008, bem mais do que os 14,1% de queda nas vendas dos básicos e de 23,4% de semimanufaturados. A recuperação de vendas de manufaturados, segundo ele, vai depender da retomada das economias que mais compram do país, como os EUA. Ele estima que, em 2010, as exportações terão expansão de 10%, chegando a US$ 168 bilhões.
Apesar de afirmar que 2010 será um ano melhor para as exportações, Barral listou três grandes obstáculos à retomada das vendas externas: a competitividade dos mercados compradores (o problema do câmbio); a carga tributária elevada e o próprio comportamento da economia doméstica, que continua aquecida e absorvendo boa parte da produção.
"Se além do câmbio, você coloca imposto em cima, não tem condições de exportar mais", diz Barral. Sem solução concreta à vista, já que a reforma tributária não será aprovada neste ano, o secretário disse que o governo vai investir em acordos bilaterais. Há também a intenção de ampliar o regime de drawback (isenção de impostos para insumos usados na produção de bens exportáveis).
Barral considerou normal a queda nas importações e positivo o saldo comercial de 2009, lembrando que foi um ano de crise. Enfatizou ainda que o superávit poderá se igualar ao registrado em 2008, que foi de US$ 24,956 bilhões. O valor será aumentado em cerca de US$ 300 milhões, devido a exportações de energia elétrica para a Argentina que ficaram de fora do balanço, explicou.Para este ano, no entanto, o cenário não é tranquilizador. Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, o descompasso entre o ritmo de crescimento da economia brasileira e o de importantes parceiros deve derrubar pela metade o superávit em 2010, para US$ 12,23 bilhões. "A expansão do PIB, em torno de 5%, certamente será o principal fator de impacto no aumento das importações, diz.
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