A crise reduziu os lucros das empresas e elevou os juros que incidem sobre suas dívidas, deixando muitas empresas em situação delicada. Muitas estão com endividamento alto, o que provocou uma corrida por renegociações e um aumento no número de recuperações judiciais. Dados da consultoria Economatica mostram que o endividamento de 257 empresas de capital aberto do mercado brasileiro fechou o ano de 2015 com valor 31% superior ao de 2014.
Inadimplência e perda de grau de investimento são obstáculos ao crédito
Com a crescente inadimplência, o acesso ao crédito fica mais difícil. No mercado interno, os bancos tendem a ficar mais conservadores, avalia Antonio Toro, sócio da consultoria PwC. “A preocupação primária tem a ver com a seletividade e a redução dos riscos. A instituições olham cada proposta de crédito de forma muito mais crítica, com mais ceticismo. Eles procuram se cercar de garantias de melhor qualidade, consequentemente o crédito fica mais escasso e difícil.”
Segundo Toro, a mesma dificuldade também aparece no mercado internacional. “Sem grau de investimento o país passa a ser visto por investidores do mundo todo como integrante de um segundo grupo, para onde se destinam quantidades menores de dinheiro. Entre 2008 e 2014 nós estivemos em um grupo privilegiado, onde havia uma grande quantidade de recursos que esses investidores estavam dispostos a alocar. A perda desse grau reverte essa situação. Ela nos tira de uma situação que era privilegiada”, analisa.
INFOGRÁFICO: Veja os indicadores da crise.
Segundo o levantamento, a dívida no ano passado foi de R$ 1,4 trilhão, frente a R$ 1 trilhão de 2014. Em 2010, a dívida das companhias era de R$ 562 bilhões, comparado com o ano de 2015 registrou-se um crescimento de 149% em 5 anos. Já o caixa dessas 257 empresas da amostra fechou o ano de 2015 em R$ 376 bilhões, crescimento de 26% em relação ao ano de 2014. Se comparado com o ano de 2010, o crescimento do caixa das empresas no período foi de 65%.
Nos últimos meses, diversos casos de crescimento da dívida de grandes empresas têm vindo à público. Uma das principais responsáveis por este crescimento do endividamento é a Petrobrás. A empresa fechou o de 2015 ano com dívida de R$ 492 bilhões e disponibilidade de caixa de R$100 bilhões. A operadora de telefonia Oi também enfrenta situação semelhante. A empresa terminou o ano passado com uma dívida bruta de R$ 59 bilhões, enquanto o caixa da empresa era de R$ 16 bilhões.
O alto endividamento não é exclusividade das grandes empresas. Segundo Eduardo Valério, diretor-presidente da consultoria J. Valério, as médias empresas também têm enfrentado dificuldades. Ele diz que, impulsionado pelo aumento das taxas de juros e pela contratação de novas dívidas, o índice de alavancagem das empresas endividadas tem crescido entre 60 e 70%. Valério diz que o problema não é o endividamento em si, mas o perfil das dívidas. “As empresas estão se endividando para resolver problemas de curto prazo, e não para investir no crescimento. O custo fixo de operação cresceu cerca de 60% nos últimos 36 meses, enquanto as receitas subiram, no máximo, 25%”, avalia.
Os três motivos
Na opinião do consultor Eduardo Valério, existem três principais fatores que levaram ao atual nível de endividamento: o crescimento dos custos fixos, principalmente mão-de-obra, energia e transporte; a queda da atividade econômica; e o receio dos agentes financeiros de um crescimento da inadimplência, o que leva as instituições a majorarem o custo de novos empréstimos e a aumentarem suas taxas de juros.
Inadimplência
Para Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, é normal que as empresas trabalhem com níveis de endividamento. Entretanto, segundo ele, esta situação começa a ficar preocupante quando as companhias ficam inadimplentes. Rabi diz que em 2014 o Brasil bateu recorde de inadimplência. “Quatro milhões de empresas foram negativadas no Brasil em 2015, isso representa 50% das empresas em operação no país”, afirma.
Recuperação judicial
Em casos mais graves de crescimento do endividamento e da inadimplência, a recuperação judicial passa a ser uma medida a ser considerada. Neste quesito, ainda de acordo com Luiz Rabi, o Brasil novamente bateu recorde em 2015. Foram mais de 1.500 pedidos de recuperação judicial, a maior marca desde 2005. Esta medida é considerada, por exemplo, no caso da operadora Oi. Caso a negociação com os credores não surta os efeitos esperados, a recuperação judicial da companhia tem sido considerada cada vez mais factível.
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