O relançamento formal da negociação de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, na tarde desta segunda-feira (17), em Madri, foi marcado por troca de farpas entre o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. A interrupção da busca de um entendimento comercial das duas regiões, durante seis anos, segundo a chefe de Estado argentina, não foi por culpa do Mercosul, mas sim de países como a França, que temem a abertura de seus mercados para os produtos agrícolas sul-americanos.
"O grande inconveniente (para um acordo) nunca foi do lado do Mercosul", ressaltou a presidente argentina durante entrevista coletiva ao lado de Zapatero, do presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. "Todos sabemos que a razão de não abrir a negociação são os países que temem perder seus subsídios agrícolas", completou Cristina, afirmando que as subvenções de alguns países europeus variam entre "70% a 100% de suas respectivas produções.
"Há várias formas de protecionismo e é preciso analisá-las", destacou Cristina, afirmando que "protecionismo não é só o que se aplica na aduana dos portos", em clara referência à restrição do governo argentino aos alimentos e bebidas importados. "Protecionismo também é subsidiar, eximir impostos, outorgar benefícios às exportações. Todas as formas têm de ser examinadas com o mesmo critério", arrematou.
Zapatero não demorou na resposta a Cristina. "Melhor que a tentação do protecionismo é abrir as portas de nossos mercados porque todos os países seremos beneficiados", disse Zapatero. Tanto os governos europeus quanto o brasileiro protestam contra as barreiras que a Argentina vem adotando para a importação de alimentos e bebidas, desde a semana passada, sem uma norma formal assinada e publicada pelo Executivo. A presidente desmentiu a aplicação destas medidas, mas vários importadores locais confirmaram as restrições que foram comunicadas verbalmente pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, no último dia 4.
Mais cedo, fonte do governo argentino confirmou à AE que a medida é parte de uma manobra negociadora da Argentina junto à União Europeia e aos próprios sindicatos do setor de alimentos argentinos. Os trabalhadores se encontram em plena negociação de reajustes salariais, sem nenhum indicativo de acordo. Há mais de duas semanas que os sindicatos organizam greves diárias em diferentes turnos de trabalho. Existem alertas no mercado sobre a possibilidade de desabastecimento de alguns produtos.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast