Ainda vai demorar pouco mais de dois anos para que os paranaenses deem adeus às transmissões de TV pelo sinal analógico, mas o cronograma de desligamento deste formato já é alvo de preocupação e descrença de parte das emissoras e de especialistas do setor. O calendário estabelecido pelo governo federal prevê que o sinal analógico passe a ser desligado já em novembro deste ano, em Rio Verde, interior de Goiás, escolhida como cidade-piloto do processo. Ano que vem, em maio e novembro, será a vez das capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente – locais que deverão representar os maiores desafios para a efetiva substituição do sinal.
Os possíveis entraves não são técnicos ou financeiros, mas dizem respeito à mobilização da própria população. Uma portaria publicada ano passado pelo Ministério das Comunicações especifica que o sinal analógico só poderá ser desligado se pelo menos 93% dos domicílios da cidade tiverem acesso comprovado ao sinal digital – seja usando aparelhos de TV que já veem com a tecnologia (em geral, os aparelhos de tela plana) ou um conversor para as antigas TVs de tubo. A confirmação do porcentual se dará por meio de pesquisa, próximo à data de desligamento, a ser conduzida pela EAD, entidade criada pelas operadoras de telefonia vencedoras do último leilão do 4G, que usarão a faixa de 700 MHz hoje ocupada pelo sinal analógico.
Apesar da proximidade dos primeiros desligamentos, ainda não há definições sobre os parâmetros que serão usados nesta pesquisa ou a data de aplicação em cada cidade. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o tema vai ser a principal pauta do próximo encontro do Grupo de Implantação do Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV (Gired), na próxima quarta-feira (29). O grupo inclui representantes da Anatel, do Ministério das Comunicações e das operadoras.
No escuro
Hoje, não há estudos que especifiquem exatamente qual a penetração do sinal digital nos lares brasileiros. O presidente da Anatel, João Rezende, já chegou a falar na cifra de 30 milhões de pessoas que ainda precisam ter acesso à TV digital, mas a própria agência reconhece que a estimativa não é confiável. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) estipula que 55% dos domicílios já tenham condições de receber o sinal.
“Alcançar toda a população restante, convencendo-a de que é preciso colocar a mão no bolso para comprar um conversor digital ou trocar a TV, será uma tarefa muito difícil. Até hoje, não tivemos um único país que fizesse a transição sem adiamentos. O nosso cronograma é bem desafiador, super apertado”, resume o diretor-geral da Abert, Luis Roberto Antonik.
O custo para adaptar uma TV ao sinal analógico gira em torno de R$ 150, incluindo o conversor e a antena. Para o engenheiro eletrônico e professor da Fiap Almir Meira, a principal barreira não é o custo, mas a falta de conhecimento. “Muitas pessoas nem sabem ainda para que serve o conversor digital. Quando se iniciou a transmissão, em 2007, falou-se muito a respeito, mas, depois, esse trabalho de conscientização se esvaziou”, afirma.