A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) fez nesta sexta-feira (18) uma oferta para comprar a Cimpor, maior produtora de cimento de Portugal, em um negócio de quase 5,7 bilhões de euros (8,1 bilhões de dólares).Para ser um ator de peso nessa indústria, a CSN --mais conhecida por seus produtos siderúrgicos e minério de ferro-- se dispôs a pagar 3,86 bilhões de euros por todas as ações da Cimpor.
Além disso, a empresa portuguesa, com operação em vários países, inclusive no Brasil, encerrou setembro com dívida líquida de 1,8 bilhão de euros --que em operações desse tipo são absorvidas pelo comprador.
Conforme o grupo brasileiro, a aquisição da Cimpor "contribuirá para a formação de uma das maiores empresas produtoras de cimento do mundo, com capacidade de produção de 36 milhões de toneladas anuais de cimento".
A CSN é novata no mercado de cimento. A companhia iniciou em maio deste ano a operação de sua primeira unidade de cimento no Brasil, em Volta Redonda (RJ), com estimativa de produzir e vender 300 mil toneladas em 2009. Esse volume deverá subir gradualmente até chegar a 2,5 milhões de toneladas em 2011.
A Cimpor tem atividades em 13 países e a presença em mercados emergentes gera ao redor de 60 por cento de sua receita. No Brasil, o grupo português é o terceiro maior em vendas e o quarto em capacidade produtiva de cimento.
Presente no mercado brasileiro desde 1997, a Cimpor possui seis fábricas de cimento no país, com capacidade de 6,4 milhões de toneladas por ano, além de outras instalações.
A CSN --que pretende financiar o negócio com recursos próprios e empréstimos-- fez pela manhã o lançamento preliminar de Oferta Pública de Aquisição (OPA) de 5,75 euros por ação da Cimpor. O valor representa um prêmio de cinco por cento ante o preço de fechamento das ações da Cimpor na quinta-feira.
A oferta da CSN ficará subordinada à aquisição de, pelo menos, 50 por cento do capital da Cimpor mais uma ação.
As ações da Cimpor, que foram suspensas durante parte do pregão na bolsa de Lisboa nesta jornada, dispararam 16 por cento e terminaram valendo 6,34 euros --bem acima, portanto, do preço apresentado pela CSN.
Já as ações da CSN apresentavam forte queda na Bovespa, com desvalorização de 6 por cento, a 55,10 reais, às 15h24. Segundo analistas o alto valor proposto pela Cimpor pressiona as ações da CSN no curto prazo, embora num horizonte maior a aquisição seja positiva para o grupo brasileiro.
Sem contato
A CSN informou que ainda não manteve contato com executivos e conselheiros da Cimpor, o que caracteriza a oferta como hostil. Ao mesmo tempo, informou que "espera trabalhar em conjunto com a administração da empresa".
A Cimpor tem diversos acionistas relevantes, incluindo a cimenteira francesa Lafarge, com 17 por cento, e a construtora portuguesa Teixeira Duarte, com 23 por cento.
O banco estatal português Caixa Geral de Depósitos (CGD) detém 9,6 por cento.
Uma porta-voz do Ministério das Finanças de Portugal disse que o governo não irá interferir no negócio e que cabe ao conselho da CGD decidir sobre sua parcela na cimenteira.
A Lafarge disse que não iria comentar o assunto e os outros acionistas mencionados não foram localizados.
De acordo com o diretor de mineração da CSN, Juarez Saliba, a empresa está muito confiante de que conseguirá comprar o suficiente para assegurar o controle da Cimpor.
"Estamos muito confiantes... Acreditamos que somos muito bem-vindos pelo governo português", disse Saliba à Reuters.
Questionado sobre se é possível a CSN melhorar sua oferta, ele disse que o valor proposto é "justo", e que para subir o preço sugerido por ação seria necessário "ter a evidência" de que seriam possíveis sinergias adicionais com o negócio.
No ano passado, a Cimpor teve receita de 2,1 bilhões de euros e lucro líquido de 219 milhões de euros.
A CSN já está em Portugal por meio da unidade Lusosider, produtora de aços planos com capacidade instalada de cerca de 550 mil toneladas por ano de chapas, segundo informações no site da siderúrgica brasileira.