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Depois de dez anos de pesquisas em Goiás e de uma semana tensa em Brasília, o pesquisador da Embrapa Josias Faria vai voltar para casa, colher um pouco de feijão e, finalmente, fazer o cozido pelo qual esperou todo esse tempo. Ele é considerado o pai do primeiro feijão geneticamente modificado (GM) do mundo, o Embrapa 5.1, aprovado ontem pela Comissão Nacional de Tecnologia e Biossegurança (CTNBio) com 15 votos favoráveis, duas abstenções e cinco pedidos de diligências (informações complementares e novos testes), que não devem ser atendidas.

Contestado também por organizações não governamentais do meio ambiente e dos direitos do consumidor, o pesquisador diz que foram seguidas à risca todas as exigências para a aprovação comercial da semente, resistente ao mosaico-dourado, principal doença do feijão brasileiro, que mancha as folhas e causa perdas de mais de 40% nas lavouras infestadas.

Os pesquisadores testaram a resistência das sementes transgênicas ao vírus do mosaico-dourado e sua produtividade. Além disso, analisaram suas propriedades como alimento. Faria conta não ter consumido o produto até agora para cumprir o protocolo imposto aos cientistas.

"O feijão que desenvolvemos não produz nenhuma proteína além das que existem no feijão convencional. As propriedades que impedem a multiplicação do vírus do mosaico-dourado não estão presentes em quantidade significativa e não representam risco para o consumo humano", garantiu ontem, logo após a aprovação da semente. A colheita dos campos experimentais do feijão que ele vai provar está marcada para segunda-feira, em Santo Antônio de Goiás (GO). Houve plantio para avaliação da produtividade também em Sete Lagoas (MG) e em Londrina (PR).

Trata-se da primeira semente transgênica desenvolvida totalmente por pesquisadores brasileiros. Os pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão (de Goiás) trabalharam junto com os da Embrapa Recursos Genéticos e Biotec­nologia (de Brasília), onde o projeto foi liderado pelo pesquisador Francisco Aragão.

A Embrapa divulgou que a decisão da CTNBio "foi um marco para a ciência nacional". A empresa estima que o Brasil perde entre 80 mil e 280 mil toneladas de feijão ao ano por causa do mosaico-dourado. As pesquisas custaram R$ 3,5 milhões e não há previsão de cobrança de royalties dos produtores, como ocorre na soja.

Antes de ser multiplicada, a semente depende de aval do Conselho Nacional de Biossegurança e do Ministério da Agricultura. Deve chegar aos produtores, em diversas variedades, em 2014. O Paraná, maior produtor nacional do alimento, deve colher 820 mil toneladas de feijão em 2010/11 – 21% da produção nacional.

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