O vice-presidente da área médica da Dasa, Emerson Gasparetto, conheceu os empreendedores do Cubo em um dos bate-papos promovidos no espaço, onde grandes empresas se conectam aos mais diversos atores do ecossistema de startups. “Era uma sexta-feira, final de tarde, nos reunimos do terraço do prédio e tomamos um chope”, conta. Gasparetto, um dos nomes à frente da maior empresa de medicina diagnóstica do país, viu ali que a conversa do a dia a dia seria muito mais valiosa do que uma palestra.
Com a mudança do Cubo para um prédio maior , a Dasa passou a estar presente no dia a dia do local, onde foi criado um andar só para as healthtechs, como são conhecidas as startups de saúde. A Dasa presta consultoria para as startups e ajuda na seleção de novas residentes. Atualmente, são oito empresas — número que deve aumentar ainda neste mês.
A associação entre uma empresa de saúde e as healthtechs não é exclusividade da Dasa. Segundo a Folha de S. Paulo, o hospital Albert Einstein, por exemplo, investiu entre R$ 200 mil e R$ 500 mil em 12 startups nos últimos anos. O grupo ainda tem algum tipo de parceria com 25 empresas nesse modelo, informa o jornal.
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Com a Dasa, além do apoio ao Cubo, a parceria com as startups funciona de maneira mais informal, ao menos em um primeiro momento. A empresa designou um colaborador para ter contato direto com os empreendedores que tem healthtechs no espaço. Essa pessoa é responsável por identificar potenciais parceiros e unir os donos de startups com empresários do ramo que buscam por soluções tecnológicas.
Mudança de cultura
Nestes últimos três anos, a Dasa teve que deixar de lado alguns conceitos bem estabelecidas no meio empresarial. Mesmo sendo uma das principais líderes do mercado, a empresa mergulhou na busca por novas soluções tecnológicas. Entre outras coisas, fez parceria com a Universidade de Harvard, para desenvolver três projetos simultâneos, e se aproximou das startups. “As coisas podem estar dando certo hoje, mas nossa visão é também a longo prazo”, diz Gasparetto. A empresa informa que teve faturamento de R$3,7 bilhões em 2017.
O CEO e fundador da curitibana Docway, plataforma que promove encontro entre médico e paciente, Fábio Tiepolo, vê a estratégia com bons olhos. Apesar de não ter uma parceria formal com a Dasa, por enquanto, ele diz que só o fato de estar próximo da empresa já é um ganho. “A gente sabe que o aprendizado também vem com esse contato”, diz.
O executivo do Itaú Unibanco e responsável pelo Cubo Itaú, Reynaldo Gama, conta que mais duas startups fazem parte da plataforma, de maneira digital, e outras cinco iniciativas devem fazer companhia à Docway no prédio até o final de dezembro. Por enquanto, estão vinculadas ao espaço também a NEO, Cuco Health, INYou, CMTecnologia, Medicinae Solution, Gesto, HealthCentrix, iClinic e Consulta do Bem.
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“Quando começamos a planejar a mudança para o novo prédio, notamos que Dasa tinha uma plataforma muito estruturada de busca por inovação. Daí a necessidade de mantê-la perto dessas startups”, diz Gama.
Além do 12º andar, o Cubo tem outros pisos em que atuam startups de setores específicos, com empresas que são referências no ramo frequentando e apoiando o espaço. Para este modelo, surgiu o nome “curadoria vertical”. Educação, saúde, varejo, financeiro e indústria são as áreas contempladas. “Cerca de 90% por cento do prédio está ocupado”, revela Gama. Apesar da lista de startups que querem residir no prédio ser alta, diz o responsável pelo Cubo, a prioridade é selecionar startups de alto nível e que contribuam para o ecossistema da inovação.
Saúde tem problemas em toda a cadeia
Especialistas apontam a saúde como uma das áreas mais problemáticas no Brasil. Tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto as redes privadas tem recursos que poderiam ser melhor gastos. Ainda há excesso de médicos nas grandes cidades e defasagem em municípios pequenos e afastados das capitais. Não existe integração de dados nos sistema, entre outras coisas.
Para Gasparetto, da Dasa, todos os atores envolvidos no tema estão insatisfeitos. “O paciente quer uma vida mais longa e saudável; os médicos ainda estão aprendendo sobre as novas tecnologias, que também afetaram sua profissão; os processos, em geral, são caros e ineficientes — o que é o pior dos mundos”, diz. “O problema está na cadeia inteira”.
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Além das mudanças tecnológicas, a crise financeira abalou o sistema privado e empurrou parte da população para o SUS, que segue com a promessa de ter cada vez menos investimento do Governo Federal, graças a Projeto de Emenda Constitucional 241, a PEC que impõe um teto para os gastos públicos nos próximos anos.
Nesse cenário, surgem as healthtechs, que prometem baratear os processos e torná-los mais eficientes — cada uma investe numa área médica específica. De acordo com relatório da Liga Insights Health Techs, hoje são 263 iniciativas entre as pouco mais de 10 mil startups no Brasil. A maioria delas está na cidade de São Paulo.
O estudo dividiu as healthtechs em 18 áreas: sistemas de gestão é a mais representativa, 17% das iniciativas. Em seguida, ficam as hard sciences (soluções com alto nível de complexidade, risco e envolvimento de pesquisas e testes para as regulamentações necessárias),15%. Bem-estar físico e mental e buscadores e agendamentos de consultas representam 10%.
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