Ao longo de sua carreira no mercado financeiro, a economista Carolina Dassie notou que a alimentação saudável quase sempre ficava em segundo plano. Em nome da praticidade, muitos de seus colegas desenvolviam hábitos que podem causar doenças como diabetes e hipertensão. Disposta a mudar esta realidade, ela criou a Hisnëk, que nasceu como um clube de assinaturas de comidas saudáveis.
Hoje o principal produto da empresa é um pacote de serviços — que inclui, além do kit mensal de produtos, orientação nutricional — oferecido a funcionários de empresas, como um benefício. A startup ainda promove reuniões para “mudar o mindset” das pessoas, a fim de que elas enxerguem a importância da alimentação saudável. “Não tem de ser algo chato”, diz Dassie.
Formada em Economia, a empreendedora conta que “ligou os pontos” de qual seria a solução saudável para a rotina de alimentação de seus colegas quando foi morar na Espanha, para fazer um MBA. “Lá fora percebi que existiam muitos clubes de assinatura” de alimentação, conta, e resolveu trazer o modelo para o Brasil.
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De volta ao Brasil e, por um tempo, trabalhando na Bolsa de Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, tirou licença maternidade e passou a estudar o segmento da saúde. Não voltou mais. Descobriu que havia números que sustentavam sua percepção sobre alimentação: o sobrepeso atinge 54% população brasileira, por exemplo.
Os dados são da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) divulgados pelo Ministério da Saúde no ano passado, que também mostram que 18,9% da população no país é obesa.
Para Dassie, a má alimentação está relacionada a um crescente gasto com planos de saúde, o que pesa no bolso das empresas. Daí que faria mais sentido atuar na prevenção de doenças causadas por hábitos alimentares inadequados, evitando que isso incorresse numa perda de produtividade da empresa.
Com essas e outras informações em mãos, bagagem e vontade de empreender
Modelo de startups
Para testar se o negócio teria apelo, ela optou seguir o modelo de startup. O que permitiu fazer pequenos testes e só investir mais na plataforma quando tudo já estava mais consolidado. Dassie entrou em contato com profissionais para que desenvolvessem a identidade visual de sua empresa, além de um site. Foram esses os primeiros gastos que teve, sozinha, e somaram R$ 70 mil. De lá para cá, passaram-se cinco anos.
No início a Hisnëk atuou com foco no mercado B2C – em inglês, Business to Commerce, sigla que define a transação comercial entre empresa e consumidor. Era um clube de assinaturas, como as inspirações da empreendedora no exterior. Com o aumento de procura pelas empresas, a empresa passou a atender o público B2B – Business to Business, transações comerciais entre empresas.
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A empreendedora avalia que foi uma ótima escolha seguir o modelo startup porque a permitiu fazer pequenos testes e só investir mais na plataforma quando tudo já estava mais consolidado. “O erro de muitas empresas é não validar sua hipótese e começar muito grande”, opina.
A empreendedora conta que a estrutura da empresa foi pensada com base em três pilares. O acesso aos lanches saudáveis a um valor acessível romperia a barreira do tempo – segundo ela, apontada como um dos principais motivos para as pessoas não cuidarem da própria alimentação.
O segundo pilar seria a orientação nutricional e o terceiro as tais visitas para ajudar nas “mudanças de mindset”. “Temos que quebrar o preconceito com o saudável, de que a comida que faz bem não tem gosto”, diz.
Mais de 70 mil pessoas
A estratégia funcionou. A Hisnëk informa que hoje atende cerca de mil assinantes e, com clientes corporativos – como Nokia, DASA e Alelo – cobre 70 mil pessoas. São 10 colaboradores na equipe, que trabalha no Cubo – espaço de empreendedorismo do Itaú. “Num segundo momento tivemos um escritório, mas a mudança para o Cubo foi importante pela conexão com outras startups, pois aumenta nossa curva de aprendizado”, diz.
“Você acaba errando menos porque conhece a experiência dos colegas. Além de ter contato com novos clientes e colocar a própria equipe num ecossistema de inovação”. Daise conta que a Hisnëk ainda tem um galpão para armazenamento dos produtos e uma equipe comercial responsável pela prospecção de clientes corporativos.
Como funciona
Cada empresa paga um subsídio por colaborador, o que permite aos funcionários assinarem as caixas de alimentos com desconto – o box principal tem 22 itens. A empresa informa que o valor cai de R$ 94 para R$ 66 no plano corporativo e que oferece quatro estilos de conjunto de alimentos.
Os produtos dos boxes seguem critérios de uma equipe de nutrição contratada pela Hisnëk: não podem conter gorduras trans ou hidrogenada e aditivos químicos, e precisam ter a porcentagem de açúcar, sódio e gordura controlada. Para o usuário, ainda há um painel no site da empresa para tirar dúvidas. “Em média 170 pessoas por mês entram em contato”, diz Dassie.
Daise lembra que a solução desenvolvida pela startup não tem como objetivo substituir refeições mais complexas, como o café da manhã ou almoço. “Em geral é fácil você se alimentar adequadamente com um buffet. O problema está nas pequenas refeições”, opina.
“Nós acreditamos que, além de oferecer produtos selecionados, de qualidade e com a orientação de profissionais da área da saúde, é fundamental acessibilizar e democratizar a alimentação saudável para os brasileiros”, completa a empreendedora.