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| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo

Serviço

Missão para o Vale do Silício

De 7 a 14 de fevereiro, oPrograma Novos Paradigmas para a Inovação promove uma missão internacional que leva ao Vale do Silício uma comitiva brasileira formada por empreendedores, investidores, acadêmicos, executivos e representantes de agências de fomento. Realizado em parceria com a escola de negócios da Universidade de Berkeley, o intercâmbio oferece contato com grandes especialistas no assunto e visitas a empresas inovadoras da região, como Google e Tesla. Inscrições podem ser feitas no site npin.com.br.

Interessado em desenvolver o potencial inovador do Brasil, o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) estuda soluções para a implementação de políticas voltadas à inovação e à criação de uma cultura empreendedora no país. Por meio do programa Novos Paradigmas da Inovação, a entidade promove rodadas de discussões e workshops em Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte, além de missões internacionais para aproximar agentes locais ao Vale do Silício, referência mundial na área. Após a experiência de mais de um ano na Universidade de Berkeley e prestes a embarcar em mais uma missão internacional, o coordenador do programa Marcos Schlemm, professor da PUCPR, fala sobre cultura empreendedora e o cenário nacional.

Qual é o cenário atual do empreendedorismo no Brasil?

O Brasil tem feito alguns esforços interessantes, como iniciativas do governo para simplificar a criação de empresas, mas ainda é muito pequeno para causar impacto. O orçamento de todo o nosso Ministério de Ciências e Tecnologia é o mesmo que a universidade de Stanford sozinha recebe em doações de ex-alunos. Isso mostra a distância da nossa realidade de um cenário ideal e pede uma ação mais inteligente sobre o que é necessário fazer. Em vez de pulverizar poucos recursos para todas as áreas, localizar os setores com maior potencial e concentrar recursos pode ser um caminho.

Que empecilhos dificultam o desenvolvimento do empreendedorismo local?

A cultura empreendedora aqui é muito recente. Quem tem esse espírito são jovens entre 20 e 30 e poucos anos, que pensam em abrir um negócio ao invés de fazer carreira em uma empresa ou no governo, mas não têm apoio. Há um Brasil novo querendo nascer, mas está sendo impedido pelo velho, com um congresso ineficiente, uma burocracia absurda. A legislação trabalhista vê com maus olhos o empregador, e quando uma empresa não dá certo, os encargos são astronômicos. Junto aos juros altos, isso desestimula empreendedores a correr riscos. Aqui uma empresa não começa do zero, mas do menos cinco por causa dos entraves. O Brasil Estado nasceu antes da sociedade; a burocracia trava tudo.

Qual é a base necessária para a criação de uma cultura empreendedora?

A cultura começa com educação. É um tipo determinado de educação, que desde o ensino básico incentiva a resolver problemas, desenvolver projetos, planejar e administrar. Um grande problema no Brasil é que não consideramos o papel do indivíduo. Achamos que tudo é responsabilidade do Estado e esperamos o governo resolver os problemas. Uma situação como a falta de água em São Paulo, se acontecesse no Vale do Silício, mobilizaria a própria comunidade para contribuir e solucionar o problema. A Universidade de Stanford, por exemplo, foi criada por iniciativa de um casal em homenagem a seu filho e já rendeu mais bens para a comunidade do que qualquer governo.

O que você destaca de sua experiência na Universidade de Berkeley e o que podemos trazer como exemplo?

A atuação e a importância das próprias universidades nesse processo. A forma como elas interagem com o meio empreendedor e de inovação no Vale do Silício gera uma crença e um ambiente positivo que anima a criação de novos negócios. Há uma sintonia entre as universidades, o governo e a comunidade empresarial que faz com que as coisas aconteçam, eliminando obstáculos e potencializando a cultura da colaboração, da confiança, do risco e do erro.

O que torna um ambiente favorável às novas ideias?

Primeiro a abertura à diversidade. No Vale do Silício há pessoas dos mais diferentes países sem distinção. Todos que possam contribuir são bem-vindos, diferente do Brasil, onde os estrangeiros são vistos com preconceito no meio acadêmico. Além disso, lá, ideias ambiciosas são encorajadas e há espaço para o erro, porque não errar é sinônimo de não tentar, e a inovação exige riscos. A informalidade ajuda nisso, há empreendedores com menos de 18 anos e empresas que começam em casa e conseguem investimento em questão de dias, o que aqui não acontece. Lá, os jovens não querem ficar ricos e parar de trabalhar, mas continuar investindo e orientando novos empreendedores. Há um senso de confiança e colaboração que faz das empresas um sonho compartilhado, o empreendedor não está sozinho. A disposição e acessibilidade de mentores e investidores também é fundamental. Muitos negócios começam em conversas informais em um evento ou café.

Que iniciativa você sugere para viabilizar esses negócios no cenário atual do país?

Por que não fazemos um programa bem arrojado de balcão e bancamos pequenos projetos? Poderíamos desenvolver um sistema rápido e dinâmico para apoiar a juventude e incentivar a mentalidade empreendedora. Se um empreendedor precisa de R$ 10 mil para começar seu negócio, por que o Brasil não banca? Vejo jovens descrentes. Enquanto jogamos dinheiro fora com tanta coisa, os empreendedores nem sequer podem reinvestir em sua empresa porque precisam pagar o crédito. A possibilidade de conseguir investimento força o empreendedor a delinear seu projeto e encontrar um propósito. Onde se pode sonhar grande, as pessoas vão atrás de grandes ideias.

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