Florianópolis, São Paulo e Vitória reúnem os melhores atributos para o desenvolvimento de novos negócios no Brasil. Curitiba vem na sequência, seguida por Brasília. Essas cinco capitais são as primeiras no ranking do Índice das Cidades Empreendedoras (ICE), elaborado pela Endeavor Brasil ao longo dos últimos 12 meses.
INFOGRÁFICO: Curitiba recebeu a quarta melhor nota geral e a primeira em infraestrutura no ICE
A partir da amostra de 14 cidades brasileiras que concentram mais de 1% de empresas de alto crescimento instaladas no país, os pesquisadores avaliaram as condições locais de sete grandes pilares em que o empreendedorismo se apoia: ambiente regulatório, acesso a capital, infraestrutura, mercado, capital humano, inovação e cultura empreendedora.
"Durante o levantamento foram avaliados mais de 400 indicadores e 50 deles foram selecionados para retratar esses conceitos essenciais para o desenvolvimento de negócios. Assim, em nível local, o estudo é inédito", explica o pesquisador João Melhado, coordenador de pesquisa da Endeavor Brasil.
O bom desempenho nas áreas de inovação, infraestrutura e capital humano, avaliadas com peso maior na equalização dos dados, colocou a capital catarinense em primeiro lugar no ranking geral. Mão de obra qualificada, oferta de cursos bem avaliados e a interação entre universidades e empresas inovadoras foram os pontos positivos destacados no estudo.
Apesar do mercado desenvolvido e do fácil acesso ao capital, especialmente ao de risco, São Paulo ficou na segunda posição por ter problemas no ambiente regulatório e em cultura empreendedora. Custos de impostos e a burocracia pesaram contra o índice final da cidade.
Vitória e Curitiba tiveram avaliações semelhantes em indicadores de maior valor no estudo e o equilíbrio nos demais pilares garantiu as boas posições gerais. A capital capixaba ficou em primeiro lugar em capital humano e a paranaense, em infraestrutura. Proximidade do Porto de Paranaguá, bom sistema de transporte, aeroporto e vias urbanas e rodoviárias com bons acessos contaram pontos. Em Curitiba, porém, os indicadores mostraram deficiências no capital humano e na cultura empreendedora.
A qualidade do capital humano não surpreendeu o economista Hugo Meza Pinto, professor da área de empreendedorismo e inovação das Faculdades Santa Cruz, de Curitiba. "Há uma defasagem entre o conteúdo transmitido nas universidades e a prática do mercado. E essa distância gera pouco impacto nas ações empreendedoras", diz. Para o professor André Teles, gestor do Centro de Inovação iCities, as instituições de ensino locais estão despertando agora para o empreendedorismo e procuram criar novas iniciativas. "Tivemos eventos focados na área e a demanda gerou pelo menos três novas pós-graduações que serão oferecidas a partir do ano que vem", observa.
O publicitário Ricardo Dória, criador do espaço Aldeia Coworking, chama a atenção para um aspecto da cultura local que interfere na atividade empreendedora. "Curitiba tem um complexo de perfeccionismo que paralisa a criação de novas soluções. Como cidade modelo, achamos que nada precisa ser mudado. Mas é possível fazer sim, e a cidade precisa ser modelo de inovação, que se reinventa o tempo todo", diz.
Desenvolver a empresa depois de aberta nem sempre é fácil
Lanches rápidos e saudáveis não eram comuns em bares e lanchonetes de Curitiba e região metropolitana há 22 anos. Mas não foi a necessidade de mercado que levou Luiz Carlos Bohnen a fundar a Bonen Alimentos com o sogro e a então noiva, Maria Beatriz, em 1992. "Fazia representação de biscoitos caseiros produzidos em Santa Catarina e as vendas tinham caído muito", conta o empresário. E foi um lanche caseiro noturno, preparado por Maria Beatriz, que inspirou a família no novo negócio. "Nosso ingrediente especial sempre foi a maionese de soja, preparada sem ovo. E foi um sucesso", diz.
A primeira encomenda de 40 sanduíches pulou para 300 unidades por dia em pouco mais de um mês. Pontos de venda famosos, como a Confeitaria das Famílias e a lanchonete da antiga Loja Mesbla, na Rua XV de Novembro, ajudaram a alavancar o negócio. Hoje, a indústria emprega 15 pessoas e distribui 40 mil sanduíches por mês, além de sopas, salada de fruta, bolos e iogurtes.
Bohnen não esconde que já pensou em desistir várias vezes. A rotina cansativa do setor de alimentação pesa, mas a principal dificuldade é quanto ao desenvolvimento do negócio. "A logística complicada limita minha capacidade de crescimento. Além disso, é bem difícil abrir novos mercados e convencer o parceiro que o produto pode ser rentável sem custar tão caro ao consumidor", explica. Nos últimos dois anos, Bohnen investiu R$ 400 mil em novos equipamentos. Com faturamento mensal em torno de R$ 100 mil, as previsões para 2015 são conservadoras. "Se o desempenho for igual ao desse ano, estarei satisfeito me mantendo no mercado."