Ele já foi institucionalizado como parte insubstituível da refeição dos brasileiros. Acompanha a sobremesa e ainda serve como uma boa desculpa para jogar conversa fora depois do trabalho ou durante o tempo livre. Mas agora o bom e velho café está ganhando ares de sofisticação, nas mãos de empresários de Curitiba que vêem na bebida uma nova oportunidade de negócio.
Percebe-se na cidade um aumento no número de cafeterias de acordo com a prefeitura, o número de estabelecimentos passou de 202 para 258 nos últimos 18 meses , mas com diferenciais para fugir do tradicional balcão onde se serve cafezinho ou "pingado". As novas cafeterias se especializam em determinado público e, além dos tradicionais livros, jornais, revistas e discos, agora oferecem apresentações artísticas, internet, refeições e, via de regra, um espaço aconchegante. Grandes lojas também absorveram a evolução do café e passaram a oferecer bebidas diferentes para seus clientes.
O empresário Mário Gabriel é um dos que botaram sua colher no café. Depois de vender sua parte de uma empresa de transportes de valores, ele abriu com um sócio e sua esposa Cristina o Café Dellarte, em uma galeria do centro de Curitiba. Gabriel conta que precisa lutar muito para atingir o equilíbrio nas contas, porque o investimento não foi pequeno aproximadamente R$ 90 mil. "Dava para fazer mais barato, mas o lugar tem que ser aconchegante, senão o cliente não volta", diz. "E só de café não dá para levar, por isso agora vamos servir refeições na hora do almoço." Segundo o empresário, com um faturamento mensal de cerca de R$ 15 mil, o retorno do investimento deve chegar em até um ano e meio.
O Kaffee Lounge Bar, no bairro Batel, também acredita no formato aconhegante, mas misturando o conceito de café com o de bar. Segundo o proprietário Eduardo Mira, a proposta é a de um bar para namorados ou para quem quer relaxar em um ambiente aprazível. "Quem chega ganha uma manta para se aquecer. As mesas não têm cadeiras, são poltronas, e temos namoradeiras para casais em frente do palco", completa o empresário, que ofecere 50 variedades de café para seus clientes. Mira investiu R$ 350 mil no empreendimento. Os funcionários passaram por treinamento de barista para saber como servir café e receberam noções de enologia. "O investimento inicial volta em dois ou três anos", calcula o proprietário do Kaffee, cujo faturamento mensal gira em torno de R$ 60 mil.
Outro café que deu certo é o Lucca Cafés Especiais, localizado no Batel. O negócio se expandiu tanto que virou uma rede de franquias, com quatro lojas em Curitiba e uma em Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Balneário Camboriú (SC). "Agora estamos negociando uma unidade em Manaus", revela Geórgia Franco de Souza, mestre torradeira da empresa. Como o próprio nome diz, o Lucca aposta nos cafés especiais, bebidas de classificação internacional. Além disso, cada loja da rede explora diferentes conceitos. "A loja do Batel é para gourmets, que apreciam sabores diferentes. No centro, para clientes tradicionais que gostam de discutir sobre política, na Boca Maldita. Já no bairro Juvevê, a proposta é para artistas, enquanto o café do Bigorrilho lembra mais um cyber-café", explica Geórgia.
Também é possível montar um café sem investir tanto dinheiro. É o que demonstra a Joaquim Livraria, no centro da cidade, que deve ser inaugurada em um mês. Até agora, os sócios André Scheinkmann e Gilmar Fonseca gastaram R$ 10 mil no espaço, a maior parte em uma reforma. A proposta do café é de unir um sebo de livros e discos com um local para descontração. "Vamos ter música tocando o dia inteiro e temos até um palco para pequenas apresentações. A idéia é criar um lugar bom para ficar, ler um jornal, fumar um cigarro", acrescenta o empreendedor. Além disso, os clientes poderão usar internet, tomar uma cerveja ou comer algo, diz Scheinkmann.
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