Os reajustes da tarifa de energia de meados de 2014 para cá provocaram um choque nos custos da indústria. O peso da eletricidade nas despesas totais do setor dobrou em menos de um ano, segundo estimativa do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Até junho do ano passado, a energia elétrica representava 1,4% do total de gastos da indústria paranaense. Agora, seu peso chega a 2,79%, na média dos 24 segmentos analisados.
O cálculo da Fiep considera o efeito do último reajuste anual da Copel, em julho de 2014; do aumento extraordinário, que entrou em vigor na semana passada; e da bandeira tarifária vermelha, aplicada em momentos de escassez de energia, que eleva a tarifa em R$ 5,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
“É um impacto direto sobre os custos de produção, num momento em que a economia está desacelerando, as vendas estão em baixa e os compradores fazem pressão por descontos. Ficou muito comum os clientes pedirem reduções de 5% a 10% nos preços devido à crise”, diz o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. “Some-se a isso os aumentos de impostos e as negociações salariais que vêm aí, com pressões sobre os salários, e o que se tem é um verdadeiro tsunami sobre a indústria.”
Para o consultor empresarial Andreas Hoffrichter, diretor da Câmara Brasil-Alemanha (AHK Paraná), é pouco provável que as empresas consigam repassar todo o aumento de custos ao consumidor. “Por consequência, haverá uma queda nas margens, na rentabilidade das empresas. Como vai sobrar menos dinheiro no caixa, também sobrará menos para os investimentos.”
Repasse difícil
A questão do repasse é ainda mais delicada para quem vende componentes ou insumos para outras empresas industriais. Caso da Hexion Especialidades Químicas, de Curitiba, que fabrica resinas para a indústria de produtos de madeira, um dos segmentos mais afetados pelo reajuste da energia.
“Tivemos um impacto importante da energia aqui. Mas o nosso cliente também teve um aumento substancial no seu custo. E tudo fica ainda mais difícil quando lá na ponta, no consumidor final, não há demanda. Fica tudo represado na cadeia”, diz Cícero Luiz Ferreira da Silva, presidente da Hexion no Brasil.
A Caltec, de Itaperuçu (Região Metropolitana de Curitiba), que fornece cal para a construção civil e as indústrias siderúrgica e sucroalcooleira, já vinha produzindo menos para baixar os estoques. O encarecimento da energia – que até o último reajuste representava 16% de seu custo de produção – é mais um duro golpe em um ano repleto de reajustes.
“O ICMS vai subir de 12% para 18%. Houve o aumento do diesel, que para nós, que trabalhamos com mineração, tem peso equivalente ao da eletricidade. E agora a energia. Se até julho o mercado não reagir, vamos ter que repensar nossas atividades”, diz Carlos Eduardo Furquim Bezerra, diretor-geral.