Planta da Hexion Especialidades Químicas, de Curitiba: empresa faz parte de um dos segmentos mais afetados pelo reajuste da energia.| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

Os reajustes da tarifa de energia de meados de 2014 para cá provocaram um choque nos custos da indústria. O peso da eletricidade nas despesas totais do setor dobrou em menos de um ano, segundo estimativa do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Até junho do ano passado, a energia elétrica representava 1,4% do total de gastos da indústria paranaense. Agora, seu peso chega a 2,79%, na média dos 24 segmentos analisados.

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O cálculo da Fiep considera o efeito do último reajuste anual da Copel, em julho de 2014; do aumento extraordinário, que entrou em vigor na semana passada; e da bandeira tarifária vermelha, aplicada em momentos de escassez de energia, que eleva a tarifa em R$ 5,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

“É um impacto direto sobre os custos de produção, num momento em que a economia está desacelerando, as vendas estão em baixa e os compradores fazem pressão por descontos. Ficou muito comum os clientes pedirem reduções de 5% a 10% nos preços devido à crise”, diz o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. “Some-se a isso os aumentos de impostos e as negociações salariais que vêm aí, com pressões sobre os salários, e o que se tem é um verdadeiro tsunami sobre a indústria.”

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Por que sobe?

A Agência Nacional de Energia Elétrica autorizou o reajuste extraordinário para que as distribuidoras pudessem compensar o aumento da tarifa de Itaipu (de 46%, em dólar), o fim dos subsídios do Tesouro à CDE (fundo que banca despesas do setor) e a compra de energia a preços elevados em um leilão promovido em janeiro.

Para o consultor empresarial Andreas Hoffrichter, diretor da Câmara Brasil-Alemanha (AHK Paraná), é pouco provável que as empresas consigam repassar todo o aumento de custos ao consumidor. “Por consequência, haverá uma queda nas margens, na rentabilidade das empresas. Como vai sobrar menos dinheiro no caixa, também sobrará menos para os investimentos.”

3ª mais cara

Estudo da Firjan revelou que, com o reajuste extraordinário, o custo médio da energia para a indústria brasileira subiu da 6ª para a 3ª posição em um ranking de 28 países. O valor médio no Brasil, de R$ 498,28 por megawatt-hora, ficou atrás apenas do bancado pelas indústrias da Índia (R$ 596,96) e Itália (R$ 536,14).

Repasse difícil

A questão do repasse é ainda mais delicada para quem vende componentes ou insumos para outras empresas industriais. Caso da Hexion Especialidades Químicas, de Curitiba, que fabrica resinas para a indústria de produtos de madeira, um dos segmentos mais afetados pelo reajuste da energia.

“Tivemos um impacto importante da energia aqui. Mas o nosso cliente também teve um aumento substancial no seu custo. E tudo fica ainda mais difícil quando lá na ponta, no consumidor final, não há demanda. Fica tudo represado na cadeia”, diz Cícero Luiz Ferreira da Silva, presidente da Hexion no Brasil.

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A Caltec, de Itaperuçu (Região Metropolitana de Curitiba), que fornece cal para a construção civil e as indústrias siderúrgica e sucroalcooleira, já vinha produzindo menos para baixar os estoques. O encarecimento da energia – que até o último reajuste representava 16% de seu custo de produção – é mais um duro golpe em um ano repleto de reajustes.

“O ICMS vai subir de 12% para 18%. Houve o aumento do diesel, que para nós, que trabalhamos com mineração, tem peso equivalente ao da eletricidade. E agora a energia. Se até julho o mercado não reagir, vamos ter que repensar nossas atividades”, diz Carlos Eduardo Furquim Bezerra, diretor-geral.

Reajuste “engoliu” ganho de eficiência alcançado em um ano

Até o reajuste extraordinário da tarifa da Copel, de quase 39% para a classe industrial, a energia respondia por cerca de 10% do custo de produção da OKE do Brasil, que produz perfis plásticos para o setor automotivo em Piraquara (Região Metropolitana de Curitiba). Depois do aumento, o custo total da empresa para produzir subiu quase 4% de uma só tacada.

“Esse porcentual é igual à nossa meta anual de aumento da produtividade. Ou seja, todo o esforço de um ano para reduzir os custos foi abaixo de uma só vez”, diz o diretor-geral, Emerson Nogueira. Para amenizar o impacto, a empresa estuda modificar o regime de funcionamento das máquinas que consomem mais energia, concentrando suas atividades fora do horário de pico (das 18 às 21 horas), em que a tarifa é mais elevada.

O presidente da Hexion Especialidades Químicas, Cícero Luiz Ferreira da Silva, diz que, embora importante, elevar a produtividade pode não fazer a diferença num primeiro momento. “Ao buscar eficiência, tentamos produzir mais com o mesmo custo. Mas não adianta produzir mais se você não conseguir vender essa produção, se o mercado não está comprador”, argumenta.

Mesmo empresas que são menos intensivas em energia sentem o baque. Na fabricante de bebidas Cini, de São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, o reajuste tarifário elevou os custos de produção de 1,5% a 2%, segundo o diretor da empresa, Nilo Cini Jr. “É um impacto grande, porque a nossa margem operacional não chega a 2%. Não temos esse fôlego”, explica.

A saída, segundo ele, será racionalizar os processos de logística da empresa e negociar preços com fornecedores e prestadores de serviços. O que não será fácil: os transportadores estão arcando com um diesel mais caro e vão sofrer com a reversão da desoneração da folha de pagamentos. E, por causa da alta do dólar, insumos importados como aromas, corantes e aditivos tendem a ficar mais caros.