Apesar da queda de 0,4 ponto percentual, para 46,6% ao ano, nos juros médios cobrados para as pessoas físicas em agosto, segundo pesquisa do Banco Central divulgada nesta segunda-feira, os juros pagos pelos consumidores ainda são altos segundo especialistas em finanças. Segundo cálculos feitos por Myrian Lund, professora de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a pedido do Globo Online, o custo pago pelos consumidores nos empréstimos chega a ser até 18,6 vezes a remuneração dada pelas instituições financeiras ao investidor.
Pelas projeções, um consumidor que usar R$ 1.000,00 de seu limite do cheque especial (a modalidade de crédito mais cara, com taxa anual média de 139,5% ou 7,55% ao mês), depois de um ano, estará devendo ao banco R$ 2.395,00. Por outro lado, se aplicar os R$ 1.000,00 na poupança, o investimento de maior segurança e, portanto, o de menor rendimento, ele terá ao fim de um ano R$ 1.075,00, estimados o rendimento médio de 0,60% ao mês (7,5% ao ano). Com isso, o valor pago pelo devedor é 1.760% maior do que a remuneração do dinheiro aplicado na poupança.
Essa diferença cai em outras modalidades de empréstimo que têm custos menores e se for comparada com investimentos mais rentáveis, mas ainda assim é bastante significativa. No crédito pessoal, com taxa anual de 49,9% (3,43% ao mês), o custo do empréstimo seria 536,80% maior do que a remuneração média de um fundo DI ou de renda fixa. Para essa comparação foi considerado um rendimento médio no fundo de 0,74% ao mês ou 9,25% ao ano.
Neste caso, um consumidor que pegar um crédito de R$ 1.000,00 terá de pagar daqui a um ano R$ 1.499,00. Se aplicasse o mesmo valor em um fundo de renda fixa ou em um fundo DI deverá ter ao fim de 12 meses cerca de R$ 1.078,36, já descontados a taxa de administração de 2% e o imposto de renda.
Taxa do cheque especial aumentou 0,3 pp
- A queda dos juros básicos não se reflete diretamente na redução das taxas cobradas pelos bancos. A demanda pelo crédito está altíssima e mantém taxas de juros elevadas - avalia Myrian, ressaltando que a ligeira queda da taxa média para o consumidor se deve principalmente ao crédito consignado em folha de pagamento, que tem taxas menores porque o banco fica com menos riscos.
Segundo o levantamento do Banco Central, em agosto, houve aumento de 0,3 ponto percentual na taxa média de juros incidente no cheque especial, para 139,5% ao ano. O spread nessa modalidade de crédito (ganho com a diferença entre o juros cobrados e o custo de captação dos bancos) passou de 129,3% em julho, para 129,6%, no mês passado, segundo o Banco Central.
No Crédito Direto ao Consumidor (CDC) de bens duráveis, as taxas também aumentaram em 0,5 ponto percentual, para 55,2% ao ano, em média. Já o CDC para veículos ficou estável em 28,7% ao ano.
No CDC para veículos, que tem a menor taxa entre os empréstimos oferecidos pelos bancos às pessoas físicas (28,7% ao ano ou 2,12% ao mês, em média), para cada R$ 1000,00 de crédito obtido, o consumidor terá de pagar ao fim de um ano R$ 1.287,00. Nesta caso, o valor que o consumidor terá de pagar pelo crédito é 282,66% maior do que o rendimento da poupança. Na comparação com o rendimento de um fundo de renda fixa, essa diferença seria de 266,25%.