O ex-empresário Thales Emanuelle Maioline, de 36 anos, foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), nesta terça-feira (10), ao pagamento de R$ 1 milhão em multas e mais uma inabilitação por dez anos no mercado financeiro por "oferta pública irregular" e "administração irregular de carteira de valor mobiliário". Conhecido como a versão mineira de Bernard Madoff, operador de Wall Street que controlou um esquema de pirâmide financeira, Thales teria aplicado um golpe de quase R$ 100 milhões em 2 mil investidores de 14 cidades de Minas Gerais, segundo o Ministério Público Estadual.
Atualmente em liberdade provisória, após um ano e meio no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp), na região metropolitana de Belo Horizonte, o Madof mineiro e seu advogado não comparecerem ao julgamento. O ex-empresário foi multado como pessoa física em R$ 500 mil. Outros R$ 500 mil foram aplicados pela CVM à Firv Investimentos, empresa criada por Thales em 2006 e sediada em Belo Horizonte.
Foi pela Firv Investimentos que Thales fez sua fortuna entre 2006 e 2010. A empresa oferecia "renda fixa garantida" de 5% ao mês aos clientes, por meio do chamado Fundo de Investimento Capitalizado (Ficap). É uma rentabilidade muito alta, de dar inveja a gestores renomados do mercado. Thales também ostentava uma vida de luxo e glamour, que serviam de isca para atrair mais clientes.
Segundo o MPE, a fundo oferecido pela Firv seria, na verdade, um esquema de pirâmide financeira. O dinheiro dos clientes recém-chegados era usado para remunerar os antigos clientes. O esquema funcionou por quatro anos, até 23 de julho de 2010. Foi neste dia que um dos cotistas decidiu sacar R$ 3 milhões do fundo, um mês após a CVM soltar um alerta ao mercado de que a oferta de produtos financeiros da Firv era irregular. O saque revelou o esquema e fez a pirâmide ruir.
Foragido
No dia em que quebrou, em 23 de julho de 2010, Thales teria um encontro com um investidor em São Paulo, que estaria disposto a colocar R$ 20 milhões em seu negócio. O "homem do dinheiro" era a sua última esperança para prolongar suas atividades financeiras, mas ele não apareceu. Com cerca de R$ 20 mil no bolso, Thales saiu do encontro diretamente para um terminal rodoviário. Embarcou dali num ônibus para Rondônia, depois de dormir em Mato Grosso.
O rapaz teria vendido um computador que carregava. Comprou uma barraca de camping e ficou acampado por alguns dias em floresta na área de Pimenteiras (RO), a poucos metros da fronteira com a Bolívia. Em um hotel de pesca, acessava a internet e tinha notícias de Minas Gerais: em sua terra natal, centenas de investidores já denunciavam o seu desaparecimento e cobravam providências da polícia.
Thales decidiu passar para o lado boliviano e, de canoa, viajou até a cidade de Remanso, pelo Rio Guaporé. Passou incólume pelo posto da Polícia Federal na fronteira. Alugou um quarto em uma casa de turistas, onde nunca perguntaram seu nome. Sem internet, não sabia o que se passava em sua terra natal. Por isso, viajou a Santa Cruz de La Sierra. Foram três dias de percurso em um carro de boi com botijões de gás. Por quatro meses monitorou sua situação pela internet. Visitava outras cidades da região, mas sabia que a vida no país vizinho não teria como durar muito.
O advogado de Thales, Marco Aurélio Andrade, não foi localizado para comentar a decisão da CVM. Em janeiro deste ano, ele disse que Thales acabou decidindo voltar ao Brasil e se entregar voluntariamente à polícia por temer pela vida de seus familiares. O advogado contestou, na época, o que seria uma "ficção midiática chamada por Madoff mineiro".
"Quem vai ser réu neste julgamento, Thales ou a ficção midiática?", indagou o advogado. "O Ministério Público diz que ele sumiu com R$ 100 milhões. Como seria possível desaparecer com todo esse dinheiro? O Thales era um investidor da bolsa de valores".
Estelionato
O MPE move atualmente um processo por estelionato, formação de quadrilha e falsificação de documentos contra Thales Maioline no Fórum de Lafayette, de Minas Gerais. Esse processo ainda não teve decisão da Justiça. Segundo o Fórum, o processo está em fase de contabilização do efetivo prejuízo causado por Thales. Essa contabilização pode demorar.
Além de Thales, foram julgado no processo administrativo da CVM sua irmã Iany Márcia Maioline e Oséias Marques Ventura por administração irregular de carteira de valores mobiliários e realização de oferta pública irregular de valores mobiliários. Ambos foram absolvidos.