Este deve ser o terceiro natal consecutivo de recessão no Brasil| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

A nova rodada de dados negativos no comércio varejista, agora em outubro, reforçam a percepção do mercado de que o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre deve apresentar mais uma retração. Essa é avaliação dos analistas após o IBGE informar que o varejo restrito teve recuo de 0,8% ante mês anterior e 8,2% no confronto interanual, a décima nona queda consecutiva nessa base de comparação.

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O varejo ampliado também teve declínio na margem de 0,3% e de 10% em relação a outubro de 2015. A atividade fraca ainda fortalece a estimativa dos especialistas de que o Banco Central deve acelerar o ritmo de flexibilização monetária nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

A economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, argumentou que a queda observada na pesquisa, embora não seja surpresa, foi mais intensa do que o esperado para a comparação interanual. “Já se esperava que nessa época do ano o varejo tivesse quedas menores, ainda mais no setor de supermercados, que registrou novo recuo mesmo com os alimentos em deflação em outubro”, considerou.

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Esse dado fraco de outubro sinaliza, segundo a economista Jessica Strasbrug, da CM Capital Markets, que o quarto trimestre será ruim para atividade. Pesa para essa avaliação a perspectiva de que o comércio não deve ter impulso com as vendas de Natal, como observou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour.

Para ela, o consumo em dezembro deve ser “decepcionante” pela demora da economia em engatar uma recuperação e porque muitos consumidores anteciparam as suas compras para novembro por causa da Black Friday. “Embora a Black Friday tenha ficado abaixo da expectativa, as promoções roubaram vendas do Natal”, disse.

A Black Friday, contudo, pode ter ajudado o varejo em novembro, conforme Thaís, da Rosenberg. Por isso, mesmo com a nova queda em outubro, a economista ainda não vai mudar sua projeção para o PIB do quarto trimestre, que atualmente é de recuo de 0,2% em relação ao segundo trimestre.

Recuperação distante

Mas a recuperação efetiva do consumo ainda deve demorar a acontecer, segundo os especialistas, considerando o alto nível de desemprego, a renda deteriorada e o crédito escasso. Para Jéssica, da CM Capital Market, a situação do consumo só deve melhorar com dissipação das incertezas políticas.

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“A crise política deteriora a confiança. Para esse fim de ano, não vejo melhora. Talvez a aprovação da PEC do Teto de Gastos traga um pouco de confiança, pois uma parte já foi precificada. Só com melhora (total) da confiança, a recuperação da atividade pode ser saudável”, afirmou.

Para Solange, da ARX Investimentos, a crise política atual está trazendo turbulência aos processos de reformas fiscais. Dessa forma, sem confiança alta, ela espera uma recuperação lenta e gradual do varejo em 2017.

Uma nova retração no varejo em 2017 não é descartada no cenário do economista Luiz Castelli, da GO Associados. Segundo ele, o varejo deve registrar estabilidade na margem no ano que vem, mas o carrego estatístico negativo de 2016 deve deixar o dado anual em campo negativo. Nos cálculos do economista, a pesquisa restrita deve recuar 6,2% em 2016, deixando um carrego estatístico nos dados trimestrais de -1,5%. No caso da pesquisa ampliada, a queda em 2016 deve ser de 8,6%, com carry over de -2,2% nos dados trimestrais para 2017.

Mas Castelli espera que as vendas no varejo ampliado tenham melhor resultado que no restrito no ano que vem, principalmente porque a expectativa de juro menor deve impulsionar mais os setores que dependem de crédito, como o automotivo.

O economista ainda considerou que a política monetária está travando a atividade, por isso avaliou que o Banco Central deve reduzir a Selic em 0,50 ponto porcentual na reunião do Copom de janeiro. Além disso, ele disse que há espaço para corte de 0,75 ponto no encontro de fevereiro, se não houver deterioração no cenário interno, com aprofundamento da crise política, e externo.

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Jéssica, da CM Capital, também avaliou que a fraqueza da atividade retratada na pesquisa abre espaço para corte maior da Selic em janeiro. “Mudamos nossa estimativa depois da ata do Copom. Esperamos que a taxa feche em 11,75% em 2017, por enquanto. Porém, ainda não definimos como será a distribuição dos cortes ao longo do ano”, disse.