Líderes da economia e da política mundiais concordaram, no encerramento do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que é urgente a necessidade de encontrar uma maneira de transformar suas idéias em ação. Durante os cinco dias de debates, vozes influentes lançaram o alerta de que é preciso consertar rumos da economia internacional agora, sob pena de não se estar preparado para as tempestades no horizonte.
Durante a reunião, as grandes corporações celebraram o vigor dos mercados de ações, grandes aquisições e fusões, bem como previsões otimistas de crescimento. Mas os economistas mais respeitados e o Fundo Monetário Internacional alertaram que os governos não devem se cegar pelo otimismo disseminado e deixar de corrigir problemas básicos na maneira de economia global funcionar.
O ex-presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, foi a voz mais crítica do último dia de debates.
- Enquanto as pessoas com dinheiro não se derem conta de que seu nível de comodidade se sustenta em grande parte da qualidade de vida da maioria, não poderá haver um mundo melhor - disse ele.
- Vivemos um momento em que tudo está bom - disse o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato. - A liquidez é substancial, as taxas de juro são favoráveis, as compensações de risco são favoráveis. Mas isso pode tornar complacentes os responsáveis pelas políticas.
Um ligeiro resfriamento do crescimento dos EUA, uma recuperação gradual da Europa e do Japão e a flexibilização do regime monetário chinês foram celebrados como sinais de que um suave reequilíbrio está ocorrendo, em oposição à economia global voando apenas com o motor do crescimento americano. A corrente de pensamento de que bons tempos não podem durar para sempre trouxe desconforto às discussões, mas ninguém tem certeza do que pode dar errado.
- Há um grau perigoso de complacência, e disso vem uma surpresa que traz os piores danos à economia global - disse Stephen Roach, economista-chefe do Morgan Stanley.
Ele suspeita que o calcanhar de Aquiles seja o consumidor americano sobrecarregado, com hipotecas até o pescoço num mercado imobiliário que passa por um boom. Enquanto o Fed eleva juros, os consumidores podem pisar no freio e tirar os supérfluos de seu orçamento.
Megainvestidor George Soros concorda.
- À medida que o boom imobiliário arrefecer, haverá queda de demanda que vai afetar a economia global - disse ele.
Alguns economistas temem que, se a economia americana cair na recessão, então a China - o segundo motor do crescimento global hoje - posa desacelerar demais. E a desaceleração simultânea da China e dos EUA pode ter um impacto drástico.
Kenneth Rogoff, professor de economia da Universidade de Harvard e ex-diretor de pesquisa do FMI, duvida desse cenário.
- Não vejo muita chance de uma tempestade perfeita - disse ele.
Uma razão é que as demandas de consumo e negócios estão acelerando na Europa e no Japão, bem como no restante da Ásia emergente. Eles podem compensar parte da lentidão, disseram economistas em Davos.
A segurança em energia também foi outro risco citado em Davos.
- O choque de demanda da Índia e da China pode se tornar num choque de fornecimento, porque a situação da reserva é muito apertada. Além dos riscos geopolíticos - alertou Laura Tyson, reitora da London Business School e ex-consultora econômica da Casa Branca.
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