O Fórum Econômico Mundial chegou ao fim com a constatação de que a crise internacional causou estragos profundos, agravou problemas antigos e deixou uma série de questões complicadas e ainda sem respostas para os próximos anos. Se o risco de uma depressão e colapso sistêmico ficou para trás, não se pode dizer que existe otimismo sobre o futuro da economia global. Depois do profundo pessimismo que dominou o evento no ano passado, o encontro de 2010 em Davos, na Suíça, foi marcado pela apatia e pela percepção de que as soluções não estão prontas nem claras.
A escalada do desemprego, a recuperação frágil, os rombos nas contas públicas, os desequilíbrios cambiais, a reforma do sistema financeiro, o cerco aos bancos e o desafio de desmontar os estímulos emergenciais formam uma combinação explosiva e nada fácil de equacionar.
O risco soberano se impõe como um dos maiores entraves para a recuperação global, em razão dos déficits elevados nos países desenvolvidos, como resultado do combate à crise. O ex-ministro do Japão e atual diretor do Instituto de Pesquisas em Segurança Global, Heizo Takenaka, acredita que o aumento da dívida pública levará a um novo mergulho econômico. "Nunca vimos uma expansão fiscal nesta escala na história", afirmou durante o evento. Para o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, a sustentabilidade fiscal será o grande problema dos próximos anos
A equação fica complicada porque a recuperação ainda é frágil, já que a demanda patina e o desemprego aumenta nos Estados Unidos e na Europa. Ou seja, retirar os estímulos rapidamente poderia melhorar a situação fiscal dos países, mas traria o risco de nova recessão. Escolher o momento e a velocidade certos para reverter as medidas é o grande desafio dos governos, mas não existem respostas prontas para essa questão. O FMI e a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, por exemplo, acreditam que é cedo demais para desmontar o esquema emergencial.
Recessão humana
"Os EUA estão em recuperação estatística e recessão humana", definiu o principal conselheiro econômico da Casa Branca, Lawrence Summers, em uma das frases mais comentadas no evento. Ele ressaltou que um entre cinco homens com idade entre 25 e 54 anos estão sem emprego no país e que o crescimento seguirá modesto por vários trimestres.
O ceticismo sobre a sustentabilidade da retomada nos países desenvolvidos entra em contraste com o otimismo sobre os emergentes. Essa recuperação assimétrica foi ilustrada com o acrônimo usado para definir o formato da recuperação mundial: "LUV", a forma simplificada de "love". L para a Europa, U para os Estados Unidos e V para os emergentes. Enquanto as nações mais ricas lidam com o desemprego crescente, a China, maior emergente do mundo, se preocupa com a alta da inflação, o perigo de bolhas e o excesso de capacidade de produção.
Brasil
A participação do Brasil no Fórum Econômico Mundial ficou apagada pela ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve uma crise hipertensiva na véspera da viagem a Davos. A percepção do Brasil no exterior segue favorável, embora os especialistas já comecem a debater o futuro econômico no país após a eleição presidencial. De Davos, o economista Nouriel Roubini fez um alerta sobre a necessidade de reformas estruturais, como a tributária e trabalhista, algo que ficará para o próximo governo.