Em fevereiro deste ano, a Gazeta do Povo falou dos planos da Wuzu de ser a primeira bolsa de criptomoedas do Brasil inspirada na B3, a empresa da Bolsa brasileira. De lá para cá, no entanto, os planos da fintech mudaram bastante e a empresa agora se propõe a criar a primeira rede multi-operações do país focada no novo mercado digital de capitais. Na prática, o dia a dia da Wuzu vai envolver outros ativos além das criptomoedas.
“Ainda em fevereiro nós começamos a ouvir um burburinho forte de pessoas do mercado financeiro próximas da gente sobre um conceito que hoje a gente chama de security token, ou ‘valor mobiliário’. Esse conceito significa você pegar [operar] não só [com] criptomoedas, mas cotas de fundos de investimento, contratos futuros de derivativos ou mesmo tokens que representam a propriedade fracionada de um ativo do mundo real, como um prédio”, explica o co-fundador da Wuzu André Carrera.
O burburinho cresceu, incentivado também por fundos que são clientes da Wuzu e por “um grande banco de investimentos”, com sede em São Paulo, o qual a fintech consultou. A Wuzu decidiu, então, reformular boa parte de seus produtos e toda a sua plataforma antes mesmo de estrear. O lançamento das operações já foi adiado duas vezes (fevereiro e julho) e ainda não tem uma data para ocorrer, mas deve ocorrer ainda em 2018.
À semelhança da B3, em sua plataforma, a Wuzu não atenderá clientes finais, apenas corretoras e bancos. A remuneração da startup ocorrerá da mesma forma que numa bolsa tradicional, por meio do pagamento de emolumentos, ou seja, taxas em cada operação de corretagem, só que com valores bem abaixo do mercado atual.
Para as corretoras, serão garantidas margens em reais e exigido a gerenciamento de exposição ao risco de seus clientes. O saldo da conta, no caso de uma instituição financeira, só passará pela Wuzu na hora da liquidação da negociação.
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O que são STOs e por que prometem uma revolução às startups
A estreia da Wuzu deve vir acompanhada de uma grande novidade no mercado financeiro: a oferta internacional do primeiro STO (uma espécie de evolução digital do “IPO” e do “ICO”) de um fundo de startups brasileiras.
“Eles [os donos do fundo] estão estruturando a venda das cotas desse fundo via blockchain e escolheram a nossa plataforma para poder fazer a captação primária. E é aí é que vem um diferencial: esse fundo vai estar listado para negociação secundária. É como se a gente fizesse um IPO de uma cota de um fundo que, naturalmente, é de uma classe de ativo super ‘ilíquida’, que é o venture capital, na qual o investimento normalmente é resgatado em dez, doze anos”, explica Carrera.
O Security Token Offerings (STO) nasceu de uma resposta à necessidade de se regulamentar os ICOs, ou seja, o lançamento de criptomoedas por empresas interessadas em atrair investimentos oferecendo como contrapartida benefícios e serviços futuros aos clientes/investidores.
Se de um lado o ICO trouxe uma alternativa menos burocrática para se levantar investimentos para um negócio que está começando, de outro trouxe também riscos aos investidores, já que a oferta não lhes dá direitos ou garantias diretamente atrelados à empresa em questão.
Por meio do STO, os investidores compram tokens atrelados a ações ou ativos de uma empresa, o que dá garantias reais à operação, seguindo regras muito semelhantes às de um IPO. Nem ICOs nem STOs estão regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil ainda. Por isso também, a maior parte das operações da Wuzu serão feitas com clientes de fora e toda a plataforma da fintech está em inglês.