Os últimos meses têm sido atarefados para Cleber Pereira de Morais, presidente da Bematech. Desde que assumiu o cargo, em abril do ano passado, ele publicou apenas duas mensagens no site de microblogs Twitter um sintoma de que o trabalho tem sido tanto que sobrou pouco tempo até mesmo para falar dele. Nos últimos dez meses, o executivo esteve imerso na reestruturação que mexeu com diversas áreas da empresa, líder nacional em automação comercial. O processo incluiu mudanças em cargos-chave, retomada nas parcerias com produtores de software e, agora, chega à linha de produção. A companhia está planejando colocar novos produtos no mercado ainda em 2012 e está concluindo uma ampliação na fábrica de São José dos Pinhais, cuja capacidade deve crescer de 17 mil unidades por mês, em média, para 30 mil por mês.
A reestruturação era necessária porque a Bematech cresceu demais com as aquisições que fez. Foram seis empresas em dois anos, levando a companhia a atuar nos segmentos de software e serviços. No terceiro trimestre do ano passado, a empresa classificou como prejuízo parte do valor pago em duas dessas operações (ao todo R$ 69 milhões), reconhecendo que os resultados não foram os esperados. Agora, o executivo diz que o período de reestruturação está encerrado. "Estamos prontos para surfar na nova onda do varejo", diz. Ele se refere ao bom momento do setor de serviços no país, movido pelo aumento da renda da população. Estimativas do mercado apontam que o faturamento total do setor deve ultrapassar neste ano os R$ 900 bilhões de reais. Os dados do IBGE mostram um movimento de alta que vem desde o início da década passada. As vendas de novembro do ano passado (último dado disponível) foram mais de 80% superiores às do mesmo mês de 2001. No segmento de produtos alimentícios e bebidas, o crescimento foi de 12% em um ano, entre novembro de 2010 e o mesmo mês do ano passado.
Os varejistas não estão apenas faturando mais. Elas estão também demandando mais tecnologia nas suas atividades, situação que favorece a Bematech e as outras empresas que operam nesse segmento. A Associação Brasileira de Automação Comercial (Afrac) estima que o faturamento do setor somou R$ 1,4 bilhão no ano passado. O crescimento sobre o ano anterior foi de 9% um número impressionante, dado que o Produto Interno Bruto (PIB) do país não deve ter crescido mais do que 3%.
A evolução dos meios de pagamento influenciou bastante esses rumos. O pequeno varejista precisa ter um mínimo de automação para fazer transações com cartão de crédito ou vale-refeição. E o grande se apercebeu que o cliente pode entrar na loja e fazer comparações de preço com o concorrente, por meio de smartphones. "Não há como fugir, é preciso modernizar", resume o presidente da Bematech.
É para atender a essa nova demanda que a Bematech está se armando. A empresa (que não revela o valor dos investimentos) está ampliando a fábrica dos atuais 1.450 metros quadrados para 2.350 metros quadrados, com uma estrutura flexível que permite alterar a composição do que está sendo produzido. Entre os novos modelos, já em testes dentro da própria empresa e com alguns clientes, estão totens de autosserviço, semelhantes aos que algumas empresas aéreas usam para tornar mais rápido o check-in. Nos modelos já montados pela Bematech, eles têm leitor de código de barras, módulo para leitura de cartões com chip, monitor touch e impressora. "Eles são muito grandes", brinca Cleber de Morais, comparando o aparelho com as pequenas impressoras fiscais que são seu produto mais conhecido. "Está vendo por que a gente precisa de mais espaço na fábrica?"
Do Paraná aos EUA, passando por Taiwan
A sede da Bematech tem uma estrutura espartana. Ocupa dois módulos de um condomínio empresarial perto da BR-277, em São José dos Pinhais. O ambiente é de fábrica e os escritórios, enxutos, com um corredor envidraçado de frente para a linha de produção. A reforma vai agregar um show-room, onde a companhia pretende apresentar suas novidades inclusive as que ainda estão para chegar.
Os executivos da empresa são orgulhosos de seu setor de pesquisa e desenvolvimento, que tem três centros: um em Curitiba, um em Taiwan e outro nos Estados Unidos. Há ainda parcerias com o laboratório estatal Lactec e com software houses espalhadas pelo país. Com essa inteligência descentralizada, a Bematech acompanha novidades do varejo internacional e avalia o momento de introduzi-las nos mercados onde atual. Não é só o Brasil: soluções da marca podem ser encontradas de hotéis em Moçambique até as bases aéreas americanas a Bematech é a principal fornecedora dos displays eletrônicos usados nas lojas instaladas em unidades da Força Aérea do Tio Sam.
Colocá-las em uso no Brasil, por exemplo, exige uma análise que inclui o preço, mas precisa levar em conta também fatores culturais. Sistemas de autoatendimento em postos de combustível, por exemplo, são o padrão nos Estados Unidos, mas nunca foram levados a sério no Brasil.
O que não impede que empresas nacionais façam suas demonstrações. Os painéis eletrônicos colocados em vitrines e paredes de estações de metrô em lugares como Seul, na Coreia, e Cingapura são um exemplo. Eles permitem que o passageiro passe por ali, escolha algumas mercadorias e faça a compra eletrônica pelo celular ou em um monitor touch, para receber em casa, mais tarde. Eles poderiam muito bem ser instalados no Brasil, apesar de caros. "Está se tornando comum as empresas fazerem lojas-conceito, como um show-room tecnológico", observa. Nesse caso, a finalidade seria mais de marketing que comercial.
Alguém já sondou a Bematech para fazer algo parecido? "Não", responde Morais. "Mas nós estamos prontos."
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