Washington - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, propôs ontem US$ 1,5 trilhão em novos impostos com o objetivo de ajudar a reduzir o déficit nas contas do governo norte-americano e observou que as isenções de impostos concedidas a milionários e bilionários no decorrer da última década ajudaram a ampliar o endividamento do país. No entanto, os mercados internacionais não se animaram com as medidas, preocupados com a iminência de um default (calote) grego. No fim da tarde, notícias da Europa acalmaram as bolsas em Nova York e em São Paulo.
O receio de ontem foi acentuado pelo fato de hoje terminar o prazo para que a Grécia pague 750 milhões de euros em juros de dívidas com vencimento em 2037 e em 2040. Mais cedo, circularam rumores de que os gregos não tinham dinheiro suficiente para quitar essas obrigações, mas esses boatos foram sufocados pelo próprio mercado ao longo do dia.
No fim do pregão, a preocupação com a Grécia já havia diminuído porque o país anunciou, em um comunicado, que teve uma conversa "produtiva e substancial" com representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) a trinca de credores que precisa aprovar as medidas adotadas pelo governo grego para liberar a próxima parcela do resgate ao país. Hoje a Grécia e os credores voltarão a conversar.
Alguns investidores, no entanto, ainda temem a possibilidade de uma moratória da dívida grega. "Estamos caminhando em direção a um default desordenado da Grécia no momento", disse Keith Goddard, gerente de portfólio do Capital Advisors Growth Fund. "Enquanto não houver políticas para evitar esse tipo de coisa, os investidores nunca estarão completamente dentro" do mercado, acrescentou.
Pacote
Enquanto o medo em relação à Grécia derrubava as bolsas, Obama apresentou um plano por meio do qual seriam cortados mais de US$ 3 trilhões do déficit ao longo da próxima década por meio do fim das isenções de impostos para os mais ricos e de alterações modestas no Medicare e no Medicaid. De acordo com Obama, quando sua proposta se somar aos cortes de cerca de US$ 1 trilhão transformados por ele em lei recentemente, as duas ações combinadas farão com que o déficit do governo norte-americano diminua mais de US$ 4 trilhões nos próximos dez anos.
No entanto, é improvável que a proposta de Obama receba o apoio dos republicanos, que se declaram contrários à elevação de impostos em um momento de recuperação econômica. A maior parte da arrecadação tributária viria do fim das isenções de impostos à camada mais rica da população e a empresas de grande porte, como companhias de gás e petróleo. Mesmo democratas criticaram as novidades, especialmente pela carga imposta aos produtores agrícolas.
"Luta de classes"
Obama admitiu que sua proposta para que sejam eliminadas isenções fiscais para os mais ricos e empresas como petroleiras será impopular e tentou reagir antecipadamente às críticas. "Ninguém quer punir o sucesso na América", disse. Os que vão bem, entre os quais se incluiu, precisam pagar sua "fatia justa", afirmou o presidente. "Isto não é luta de classes, é matemática", acrescentou o presidente da Comissão Orçamentária da Câmara, o republicano Paul Ryan, havia dito no domingo que o plano de Obama de taxar os mais ricos representaria uma "guerra de classes".