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Revolta sindical

De penetras a donas da manifestação

Comerciantes em geral e bancos do Rio de Janeiro colocaram ainda ontem tapumes de madeira para proteger fachadas | Arquivo/ Gazeta do Povo
Comerciantes em geral e bancos do Rio de Janeiro colocaram ainda ontem tapumes de madeira para proteger fachadas (Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo)

Deixados de lado nos protestos que se espalharam pelo Brasil nas últimas semanas, centrais sindicais e movimentos sociais tentam hoje se reencaixar na agenda das ruas. O Dia Nacional de Lutas tenta resgatar a manifestação "clássica", com paralisações de serviços, líderes conhecidos e uma pauta preordenada de reivindicações. Embora o rótulo de greve geral seja rechaçado pelos organizadores, há a previsão de que pelo menos parte dos trabalhadores cruze os braços em todas as capitais – dos motoristas de ônibus de Curitiba aos metroviários de São Paulo.

Há dúvidas, no entanto, sobre o alcance do movimento. Consultados sobre um prognóstico de participantes, representantes nacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), preferiram não arriscar palpites. "A mobilização está a todo vapor, mas não temos condições de fazer previsões. O certo é que vamos ter milhares de pessoas", disse a vice-presidente da CUT, Carmen Faro.

Seis temas unificam as demandas dos sindicalistas, mas apenas dois deles são restritos à pauta trabalhista: redução da jornada de trabalho de 44 para 42 horas e o fim do fator previdenciário. Além deles, há a defesa da reforma agrária, encabeçada pelo Movimento Sem-Terra (MST), parceiro da mobilização, assim como a União Nacional dos Estudantes. Os outros três tópicos casam com a agenda das manifestações recentes – transporte público mais barato e de qualidade, 10% do Produto Interno Bruto para educação e 10% do orçamento da União para a saúde.

Coordenador da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida afirma que todos os protestos recentes também incorporaram bandeiras da classe trabalhadora. "Ao contrário do que muita gente diz, as manifestações que sacudiram o país nesse último mês não foram confusas ou de direita. Elas reivindicaram investimentos nos serviços públicos e o fim da corrupção, o que todos nós defendemos", avalia o sindicalista.

Almeida é presidente do PSTU, partido de esquerda que apoiou a mobilização pela redução da tarifa em São Paulo, mas que também acabou rechaçado no decorrer dos protestos. "Nada mais justo que a classe trabalhadora agora, de forma organizada, entre nessa luta, mas com seus métodos de luta", completa.

Em uma situação similar, Paulo Pereira da Silva acumula a presidência da Força Sindical e o cargo de deputado federal pelo PDT de São Paulo. O parlamentar-sindicalista enxerga os protestos anteriores como uma ajuda para "colocar as pautas trabalhistas em ordem". "Na verdade, nós (centrais) já estávamos na rua, só não tínhamos a repercussão que os novos protestos estão tendo agora."

Protestos devem parar portos, rodovias e obras do PAC

A agenda do Dia Nacional de Lutas deve abranger manifestações de mais de 20 categorias e parar parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), assim como fechar temporariamente estradas e portos. As maiores paralisações devem ocorrer em São Paulo, mas vão se alastrar pelo país graças à adesão ao protesto da maioria dos sindicatos ligados ao funcionalismo público.

Na capital paulista, a previsão é de que o sistema de metrô seja afetado até o meio-dia. Metalúrgicos da cidade, além dos de Osasco, Guarulhos e de uma parte do ABC também vão cruzar os braços, assim como petroleiros e portuários de Santos. No porto de Paranaguá, a paralisação teria sido cancelada pelo Sindicato dos Operários e Trabalhadores Portuários (Sintraport), via comunicado enviado no fim da tarde, segundo a autarquia que administra o terminal, Appa.

Serão fechadas, pela manhã, quatro das mais importantes vias da cidade de São Paulo – a marginal Tietê, as avenidas do Estado, Jacu-Pêssego e Radial Leste. Em todo estado, oito rodovias vão sofrer bloqueios – Anchieta, Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares, Fernão Dias, Dutra e Mogi-Bertioga.

No Rio de Janeiro, está programada a paralisação da rodovia Presidente Dutra, entre Volta Redonda e Resende. O mesmo tipo de manifestação, de acordo com a Força Sindical, está programado para estradas de Minas Gerais e Roraima. Em Porto Alegre, acontecerão quatro caminhadas, e os rodoviários da capital gaúcha e da região metropolitana cruzarão os braços.

No geral, além da Força Sindical, sete centrais participam ativamente da organização dos protestos no país: CUT, UGT, CTB, CSB, CSP-Conlutas, Nova Central e CGTB – além de movimentos sociais, como o MST.

Descrédito

Entidades patronais "esperam pra ver"

Agência Estado

Mesmo com as confirmações por parte das centrais sindicais de que o Dia Nacional de Luta ganha cada vez mais adesões dos trabalhadores, parte das entidades patronais tem se mostrado cética em relação aos atos e prefere não se manifestar. Nenhuma informou ter elaborado algum plano de contingenciamento para tentar minimizar os efeitos das paralisações.

Boa parte delas criticou o movimento. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) afirmou que considera qualquer paralisação como "desrespeito à lei". E a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), por nota, considerou o movimento de "nada mais absurdo e inoportuno". "Querem parar o Brasil, parar a produção, parar hospitais e serviços essenciais, parar portos e aeroportos, sem se preocuparem com o enorme preço que todos nós pagaremos se essa ideia vingar", diz a nota.

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