O que pedem
Conheça a pauta das centrais sindicais:
Redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem perdas salariais
Rejeição ao projeto de lei que regulamenta as terceirizações
Fim do fator previdenciário
10% do PIB para a educação
10% do Orçamento da União para a saúde
Melhoria do transporte público
Valorização das aposentadorias
Reforma agrária
Suspensão dos leilões de petróleo
Contexto
Dia marca racha entre sindicalistas e governo
As manifestações de hoje marcam um racha no relacionamento dos líderes sindicais com o governo Dilma Rousseff. Após receber o apoio das seis maiores centrais em 2010, a presidente não conseguiu envolvê-las nos cinco pactos apresentados há duas semanas como resposta aos protestos populares. Além disso, convive com críticas cada vez mais duras, em especial da Força Sindical. "Nossas manifestações são muito claras, são contra a Dilma. Foi ela que não atendeu às nossas reivindicações desde o princípio", diz o presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva. Outro motivo de cisão é o plebiscito de reforma política defendido pela presidente e encampado apenas pela CUT. "Plebiscito e reforma política, do jeito que o governo vem apresentando agora, é para empurrar com a barriga as verdadeiras reivindicações da população", afirma o coordenador do CSP-Conlutas, José Maria Almeida. Se os pedidos não forem ouvidos, a promessa é caminhar para uma greve geral efetiva.
Ônibus param hoje à tarde em Curitiba
Motoristas e cobradores planejam interromper serviço às 15 horas. Várias outras categorias vão se manifestar
Deixados de lado nos protestos que se espalharam pelo Brasil nas últimas semanas, centrais sindicais e movimentos sociais tentam hoje se reencaixar na agenda das ruas. O Dia Nacional de Lutas tenta resgatar a manifestação "clássica", com paralisações de serviços, líderes conhecidos e uma pauta preordenada de reivindicações. Embora o rótulo de greve geral seja rechaçado pelos organizadores, há a previsão de que pelo menos parte dos trabalhadores cruze os braços em todas as capitais dos motoristas de ônibus de Curitiba aos metroviários de São Paulo.
Há dúvidas, no entanto, sobre o alcance do movimento. Consultados sobre um prognóstico de participantes, representantes nacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), preferiram não arriscar palpites. "A mobilização está a todo vapor, mas não temos condições de fazer previsões. O certo é que vamos ter milhares de pessoas", disse a vice-presidente da CUT, Carmen Faro.
Seis temas unificam as demandas dos sindicalistas, mas apenas dois deles são restritos à pauta trabalhista: redução da jornada de trabalho de 44 para 42 horas e o fim do fator previdenciário. Além deles, há a defesa da reforma agrária, encabeçada pelo Movimento Sem-Terra (MST), parceiro da mobilização, assim como a União Nacional dos Estudantes. Os outros três tópicos casam com a agenda das manifestações recentes transporte público mais barato e de qualidade, 10% do Produto Interno Bruto para educação e 10% do orçamento da União para a saúde.
Coordenador da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida afirma que todos os protestos recentes também incorporaram bandeiras da classe trabalhadora. "Ao contrário do que muita gente diz, as manifestações que sacudiram o país nesse último mês não foram confusas ou de direita. Elas reivindicaram investimentos nos serviços públicos e o fim da corrupção, o que todos nós defendemos", avalia o sindicalista.
Almeida é presidente do PSTU, partido de esquerda que apoiou a mobilização pela redução da tarifa em São Paulo, mas que também acabou rechaçado no decorrer dos protestos. "Nada mais justo que a classe trabalhadora agora, de forma organizada, entre nessa luta, mas com seus métodos de luta", completa.
Em uma situação similar, Paulo Pereira da Silva acumula a presidência da Força Sindical e o cargo de deputado federal pelo PDT de São Paulo. O parlamentar-sindicalista enxerga os protestos anteriores como uma ajuda para "colocar as pautas trabalhistas em ordem". "Na verdade, nós (centrais) já estávamos na rua, só não tínhamos a repercussão que os novos protestos estão tendo agora."
Protestos devem parar portos, rodovias e obras do PAC
A agenda do Dia Nacional de Lutas deve abranger manifestações de mais de 20 categorias e parar parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), assim como fechar temporariamente estradas e portos. As maiores paralisações devem ocorrer em São Paulo, mas vão se alastrar pelo país graças à adesão ao protesto da maioria dos sindicatos ligados ao funcionalismo público.
Na capital paulista, a previsão é de que o sistema de metrô seja afetado até o meio-dia. Metalúrgicos da cidade, além dos de Osasco, Guarulhos e de uma parte do ABC também vão cruzar os braços, assim como petroleiros e portuários de Santos. No porto de Paranaguá, a paralisação teria sido cancelada pelo Sindicato dos Operários e Trabalhadores Portuários (Sintraport), via comunicado enviado no fim da tarde, segundo a autarquia que administra o terminal, Appa.
Serão fechadas, pela manhã, quatro das mais importantes vias da cidade de São Paulo a marginal Tietê, as avenidas do Estado, Jacu-Pêssego e Radial Leste. Em todo estado, oito rodovias vão sofrer bloqueios Anchieta, Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares, Fernão Dias, Dutra e Mogi-Bertioga.
No Rio de Janeiro, está programada a paralisação da rodovia Presidente Dutra, entre Volta Redonda e Resende. O mesmo tipo de manifestação, de acordo com a Força Sindical, está programado para estradas de Minas Gerais e Roraima. Em Porto Alegre, acontecerão quatro caminhadas, e os rodoviários da capital gaúcha e da região metropolitana cruzarão os braços.
No geral, além da Força Sindical, sete centrais participam ativamente da organização dos protestos no país: CUT, UGT, CTB, CSB, CSP-Conlutas, Nova Central e CGTB além de movimentos sociais, como o MST.
Descrédito
Entidades patronais "esperam pra ver"
Agência Estado
Mesmo com as confirmações por parte das centrais sindicais de que o Dia Nacional de Luta ganha cada vez mais adesões dos trabalhadores, parte das entidades patronais tem se mostrado cética em relação aos atos e prefere não se manifestar. Nenhuma informou ter elaborado algum plano de contingenciamento para tentar minimizar os efeitos das paralisações.
Boa parte delas criticou o movimento. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) afirmou que considera qualquer paralisação como "desrespeito à lei". E a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), por nota, considerou o movimento de "nada mais absurdo e inoportuno". "Querem parar o Brasil, parar a produção, parar hospitais e serviços essenciais, parar portos e aeroportos, sem se preocuparem com o enorme preço que todos nós pagaremos se essa ideia vingar", diz a nota.
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