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Eleição Presidencial

Debate econômico parou no tempo

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Dilma Rousseff e Aécio Neves são economistas, mas nem por isso se mostram capazes de elevar o nível do debate econômico em tempos de campanha eleitoral. Em meio a discursos calculados e uma repetitiva comparação de feitos e defeitos passados, o tema tem sido tratado com a mesma profundidade de 20 anos atrás, quando o país mal havia derrotado a hiperinflação – uma época em que discutir economia se resumia a falar do poder de compra do consumidor. Parece que paramos no tempo.

Para economistas e cientistas políticos, a abordagem superficial é reflexo da polarização entre PT e PSDB, da pouca intimidade do eleitor com o assunto e do temor dos candidatos de apresentar ou detalhar propostas potencialmente impopulares, ainda que importantes. E por trás desse temor há um componente muito forte: a ampla maioria da população é favorável à intervenção do Estado na economia, o que fortalece o discurso de continuidade do governo e inibe propostas que fujam dessa direção.

Governo forte

Por mais desacreditada que esteja a classe política, 74% dos brasileiros concordam – totalmente ou em parte – que o governo deve ser o maior responsável por investir no país e fazer a economia crescer, segundo pesquisa realizada em setembro pela Hello Research, uma agência de pesquisa de mercado e inteligência. Menos de um terço dos entrevistados defendem que o Estado não deve interferir e que a tarefa de investir cabe exclusivamente à iniciativa privada.

É por isso que a intenção tucana de aliviar o papel dos bancos públicos, agigantados após a crise internacional de 2008, é tão combatida por Dilma – o que levou Aécio a recuar e afirmar que na verdade pretende "fortalecê-los", não se sabe como.

As privatizações também são usadas pelo PT para assombrar os tucanos e abreviar discussões. Faz sentido: segundo pesquisa de 2013 do instituto Latinobarómetro, menos da metade dos brasileiros acham que elas fizeram bem ao país. "A posição dos brasileiros é claramente favorável à atuação do governo na economia, até pela forma como a privatização foi tratada ao longo do tempo. O governo usa isso a seu favor", diz Davi Bertoncello, presidente da Hello Research.

Banco Central

O apoio do público à mão pesada do Estado explica, em parte, o naufrágio da candidatura de Marina Silva (PSB), que acenou ao mercado financeiro com a proposta de um Banco Central independente, logo escorraçada pela candidata à reeleição. "A questão do Banco Central foi a última tentativa de aprofundamento nestas eleições. Questões estruturais, gargalos, ameaças ao desenvolvimento não são debatidas", diz o cientista político Fábio Ostermann, da PUC-RS.

A crise do setor elétrico, por exemplo, mal é mencionada. O candidato do PSDB sabe que, sempre que citá-la, será lembrado do racionamento de 2001 ou do atual colapso dos reservatórios de água em São Paulo, estado governado por seu partido há quase 20 anos.

Mais sucesso faz o tema inflação, principal frente de batalha do tucano. Não à toa: os brasileiros a consideram o principal problema do Brasil hoje, empatada com a saúde, com 89% de citações.

Medo

Para se proteger, candidatos evitam detalhar propostas

O presidente da Hello Research, Davi Bertoncello, avalia que a superficialidade do debate econômico tem muito a ver com a orientação dos marqueteiros de campanha. "Eles indicam o que os candidatos devem ou não abordar. E, nesse ciclo, o debate nunca sobe de nível."

Ao não se aprofundarem, Dilma e Aécio buscam principalmente se proteger, diz o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB).

"Debate mesmo ocorreu entre o ministro Guido Mantega e o Armínio Fraga [escalado por Aécio para o Ministério da Fazenda], na Globonews. Nem Aécio nem Dilma querem entrar em detalhes, para não se complicar."

O economista João Ildebrando Bocchi, professor da PUC-SP e coautor do livro Economia Brasileira, pondera que é um desafio traduzir para uma linguagem simples questões econômicas complexas.

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