A elevação dos juros pelo Fed é um ato simbólico. É um sinal de confiança da autoridade monetária americana na recuperação da economia. Também é um marco do desenrolar da maior crise internacional do pós-guerra. Foram sete anos de juros zero e rodadas de estímulo para evitar uma depressão.
A elevação dos juros não significa que os riscos para a maior economia do planeta desapareceram. A oposição ao movimento foi forte, incluindo instituições como o FMI e economistas proeminentes no debate americano. Mas o Fed entendeu que as perspectivas de crescimento moderado e de inflação convergindo para a meta de 2% no médio prazo eram suficientes para normalizar a política monetária.
Há dois efeitos conflitantes para os mercados. Põe-se fim à expectativa do que ia acontecer quando os juros nos EUA subissem. Agora, o debate é sobre a magnitude da elevação, mas ninguém espera que o aperto seja muito grande ou veloz, o que retira um pouco da incerteza que pairava no ar. O problema é que pode haver alguma tensão até a tese do Fed (de que a recuperação vai continuar mesmo com a alta dos juros) fique provada.
Para o Brasil, o momento não poderia ser pior. Juros mais altos nos EUA se refletem em taxas de juros maiores para os países com maior prêmio de risco. E a economia brasileira, com a perda do grau de investimento, escorregou neste ano rapidamente para o grupo de países que pagam taxas altas para se financiarem. Isso afeta especialmente empresas que contavam com crédito externo para se capitalizarem.
O movimento também coloca alguma pressão sobre o câmbio, que tem seus efeitos positivos e negativos: estimula a exportação, mas ao mesmo tempo coloca lenha na fogueira da inflação. O Brasil poderia ter se preparado melhor para este momento.