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Trabalho

Decisão surpreendeu funcionários antigos

Os trabalhadores foram pegos de surpresa com as demissões repentinas da Bosch na tarde da última quinta-feira. "Eu senti o teto desabar já na portaria", diz o técnico em segurança e ex-funcionário da Bosch, João Batista Costa. Escalado no turno da tarde, ele diz que ao tentar entrar na empresa – logo depois de a equipe da manhã ter sido demitida – seu crachá já estava bloqueado. "Ali já deu pra entender tudo. O clima estava esquisito, cheio de seguranças, as pessoas se olhavam diferente", conta. "Tudo bem que a crise está aí e que isso provavelmente iria acontecer, mas acho que não precisava ter sido desse jeito", lamenta.

Já Vanderlei Santos, 42 anos, faria 20 anos de empresa no próximo dia 3. Foi um dos primeiros a saber do corte de funcionários, na turma do primeiro turno, e recebeu a notícia da dispensa quinze minutos antes do fim do expediente. "Que o mundo está em crise, todo mundo sabe, está no jornal todo dia. Mas a gente fica chateado com a forma como foi feito. Naquela hora, nós não fomos demitidos, nós fomos expulsos", disse, se referindo ao efetivo extraordinário de seguranças contratado para evitar tumultos no dia das demissões.

"Aquilo parecia um quartel", lembra outro operador de máquina, que preferiu não se identificar porque ainda tem parentes no quadro da empresa. Funcionário da Bosch há 15 anos, ele diz que aos 50 de idade sua recolocação no mercado de trabalho será bem difícil. "A idade é um problema, mesmo tendo uma empresa como essa no currículo", disse.

Sem perspectiva

Os funcionários da Bosch engrossaram um saldo de mais de 26 mil pessoas que foram demitidas das indústrias da região metropolitana desde o início da crise (dados de outubro a abril). Apenas as cinco maiores empresas do setor de automóveis e peças na região metropolitana (Volvo, Volkswagen, CNH, Renault e Bosch) dispensaram 2,8 mil, em números atualizados.

Para onde estão indo essas pessoas? Na avaliação do diretor do SMC Jurandir Ferreira, muitos que perderam emprego continuam desocupados. "O período de baixa não é só da Bosch, é do setor todo", diz. Segundo a coordenadora da escola sindical do SMC, Eliude Vieira, desde o início da crise a procura por qualificação no setor caiu mais de 50%. "Quando o mercado estava aquecido, tínhamos duas turmas por turno, seis por dia. Hoje mal e mal se completa três turmas, e a evasão também está bem alta", relata.

O secretário municipal de Trabalho e Emprego em Curitiba, Jorge Bernardi, diz que – após aproveitar o período de seguro-desemprego – uma parte dos demitidos nas indústrias está migrando para o setor de serviços. "As indústrias são bem vistas no mercado porque têm horários fixos e contratam dentro da lei", completa.

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva, aceita a hipótese de migração, mas com ressalvas. "O setor de serviços tende a ser mais especializado, como nos segmentos de saúde, ensino ou de serviço financeiro", alerta. Para ele, um nicho em que os empregados com formação técnica teriam mais facilidade de encontrar recolocação profissional seria no transporte, manutenção de hotéis e restaurantes, ou ainda os "outros serviços", como classifica o Caged, que inclui trabalho em empresas de segurança e limpeza. (AL)

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