As exportações caíram ao menor patamar desde março, e as importações alcançaram a maior marca em dois anos. Como resultado dessa combinação, o Paraná amargou em outubro o segundo déficit consecutivo em suas transações com o exterior. Os números reforçam a percepção de que, em tempos de dólar desvalorizado, o estado está ficando cada vez mais dependente das vendas de commodities e produtos do agronegócio para sustentar sua balança comercial.
Repetindo o que ocorreu no ano passado, o saldo paranaense passou para o negativo assim que as exportações de soja começaram a minguar, em razão da entressafra. Entre 2009 e 2010, o Paraná registrou seis meses seguidos de déficit comercial, exatamente no intervalo setembro-fevereiro. Movimento semelhante pode ter começado dois meses atrás (veja quadro nesta página).
Em outubro, o estado exportou produtos no valor de US$ 1,227 bilhão e importou US$ 1,437 bilhão, fechando o mês com déficit de US$ 210 milhões. No acumulado de janeiro a outubro, as vendas de US$ 11,877 bilhões (23% a mais que em igual período de 2009) e as compras de US$ 11,324 bilhões (alta de 47%) ainda garantem um saldo positivo de US$ 553 milhões. Essa folga, no entanto, vem ficando cada vez mais apertada. Se houver novos déficits em novembro e dezembro, e eles ficarem próximos de US$ 300 milhões, o estado corre o risco de fechar o ano no vermelho pela primeira vez desde 2000.
Nas exportações, a indústria tem feito a sua parte. Embora muitos segmentos ainda não tenham voltado aos níveis do período pré-crise, a maioria está se recuperando do tombo de 2009. Têm crescimento expressivo as exportações de alguns dos principais ramos industriais do estado, como veículos (alta de 48% sobre o ano passado), equipamentos mecânicos (61%), madeira (23%) e papel e celulose (28%).
O problema é que as fábricas têm importado como nunca. As compras de equipamentos mecânicos, por exemplo, superam as vendas ao exterior em US$ 1,114 bilhão neste ano. As montadoras de veículos, que até 2008 mais exportavam que importavam, agora emendam o segundo ano seguido de saldo negativo o déficit acumulado nos dez primeiros meses de 2010 chega a US$ 432 milhões.
Câmbio e demanda
Para a maioria dos segmentos industriais, pelo menos dois fatores jogam a favor do déficit. O primeiro é o dólar barato, que pode estar estimulando as fábricas a trocar fornecedores locais por estrangeiros. O segundo, mais visível, é a expansão da economia brasileira. No caso das montadoras, com as vendas de automóveis batendo recordes, cresce não só a importação dos veículos prontos, mas também dos componentes que vão equipar os carros produzidos em solo nacional.
O crescimento econômico também estimula o investimento em ampliação de capacidade e modernização das fábricas que aproveitam a valorização do real para trazer máquinas novas do exterior. Por sinal, o maior crescimento das importações paranaenses neste ano é o da categoria de bens de capital (máquinas e equipamentos de uso industrial). As compras dessas mercadorias saltaram 68%, passando de US$ 1,807 bilhão de janeiro a outubro de 2009 para US$ 2,948 bilhões em igual intervalo deste ano. Com isso, a participação delas nas importações do Paraná subiu de 23% para 26%.
Incentivos fiscais
Um terceiro elemento contribui para a disparada das importações no estado: os incentivos fiscais à importação. Assim como outras 17 unidades da federação, o Paraná oferece algum tipo de benefício no caso, a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A medida, que busca atrair empresas para o estado, naturalmente elevou os volumes importados.
Na semana passada, a Força Sindical entrou com ação direta de inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar derrubar os estímulos do Paraná e de Santa Catarina. A alegação é de que eles desestimulam a produção local e, portanto, a geração de empregos no Brasil. Por enquanto, o Supremo não tomou qualquer decisão em relação aos benefícios.
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