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Déficit é o maior desde 2002

Mantega diz que não há cotação de referência para “disparar” compras do FSB | Nacho Doce/Reuters
Mantega diz que não há cotação de referência para “disparar” compras do FSB (Foto: Nacho Doce/Reuters)
Veja como está o rombo brasileiro em suas transações com o exterior em 2010 |

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Veja como está o rombo brasileiro em suas transações com o exterior em 2010

O déficit nas transações do Brasil com o exterior bateu novo recorde em valores nominais e alcançou o maior patamar na comparação do Produto Interno Bruto (PIB) desde o fim do governo FHC. De acordo com o Banco Central, no mês passado o resultado das chamadas "transações correntes" – contabilidade do dinheiro que entra e sai do país em forma de mercadorias e serviços – ficou negativo em US$ 2,86 bilhões, o maior valor para meses de agosto da série iniciada em 1947. No acumulado em 12 meses, o saldo negativo atingiu a marca de 2,32% do PIB, pior nível desde setembro de 2002 (2,57%).

A projeção do BC para setembro é de um déficit ainda maior, de aproximadamente US$ 3,8 bi­­lhões. Mas, em entrevista coletiva, o chefe do Departamento Econô­mico da instituição, Altamir Lopes, disse que o crescimento do déficit em conta corrente é "gradual" e não tem trajetória explosiva. Segundo ele, esse movimento está relacionado, principalmente, à expansão da economia brasileira em um ritmo mais acelerado do que o de outros países.

Esse descompasso no crescimento tem reflexos claros, por exemplo, na balança comercial. Com o consumo em alta no Brasil, as importações disparam; com a demanda reprimida lá fora, as exportações do país crescem em ritmo mais lento.

Em linha com a avaliação do BC, o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, afirmou que, por uma conjunção de fatores domésticos e externos, o incremento do déficit da conta corrente não preocupa. Ele lembrou que o Brasil possui grau de investimento e conquistou uma boa reputação de gestão macroeconômica e estabilidade política, o que estimula o ingresso de várias modalidades de recursos para "financiar" esse déficit.

Mais vermelho

Até o fim de 2007, os elevados superávits da balança comercial brasileira garantiam ao país um saldo positivo nas transações correntes (veja quadro nesta página). Entretanto, o constante aumento das importações, das remessas de lucros e dividendos e dos gastos com serviços – transportes, aluguel de equipamentos, turismo no exterior e outros – levou o resultado para o lado negativo a partir de 2008.

E os números tendem a ficar ainda mais "vermelhos" nos próximos tempos. Segundo projeção do BC, o país deve fechar o ano com déficit de US$ 49 bilhões, o equivalente a 2,49% do PIB, mais que o dobro do verificado em 2009 (US$ 24,3 bilhões, ou 1,54% do PIB). Em 2011, o buraco deve ser ainda maior, de US$ 60 bilhões, ou 2,78% do PIB, segundo a primeira previsão da instituição para o próximo ano, divulgada ontem.

Financiamento

Saldos negativos nas contas correntes precisam ser "cobertos" de alguma forma. Geralmente, são compensados pela entrada de dólares em investimento estrangeiro direto (IED) – aportes em estruturas pro­­dutivas e na aquisição de participações em empresas – ou pelo ingresso de dólares no mercado financeiro. Estes últimos são mais "voláteis", ou seja, têm perfil de curto prazo e podem deixar o país rapidamente em caso de crise.

A boa notícia das projeções divulgadas ontem pelo BC está justamente na questão dos investimentos diretos. Em 2010 eles devem somar US$ 30 bilhões e cobrir apenas 61% do déficit em conta corrente, mas, no ano que vem, tal proporção tende a subir a 75%, com investimentos de US$ 45 bilhões, segundo o BC. Isso significa que uma parte maior do déficit brasileiro será financiada por investimentos com perfil de longo prazo, menos voláteis.

Investimentos

A expectativa de investimentos diretos no Brasil em 2010 já foi melhor. Até ontem, a expectativa do BC era que eles atingissem US$ 38 bilhões; agora, a instituição espera US$ 8 bilhões a menos. Lopes atribui a queda à decisão de algumas empresas estrangeiras de postergar investimentos no Brasil. "Embora nós tivéssemos anúncios importantes de investimentos, alguns foram postergados porque dependem da dinâmica da economia mundial, que apresenta crescimento inferior ao previsto inicialmente", explicou.

Metalurgia, automotivo e petróleo e gás estão entre os setores que mais postergaram os investimentos produtivos no Brasil, disse Lopes. Segundo ele, a recuperação da economia mundial e grandes eventos no Brasil como a exploração do pré-sal, Copa do Mundo e Olimpíada deverão acelerar em breve o ingresso de IED ao Brasil.

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