Mesmo que o pacote de resgate estabilize o sistema financeiro americano no curto prazo, o próximo presidente dos Estados Unidos vai herdar um enorme desequilíbrio na economia. O déficit do orçamento deste ano fiscal, que termina dia 30 de setembro, ficou em US$ 407 bilhões. Para o ano que vem, a estimativa era de US$ 482 bilhões. Mas com o plano de resgate de US$ 700 bilhões - mais os US$ 200 bilhões para Fannie Mae e Freddie Mac, US$ 85 bilhões para AIG, e outros - o buraco do orçamento vai crescer muito. Especialistas estimam que o déficit fique entre US$ 700 bilhões e US$ 1 trilhão.

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O aumento do déficit projeta uma sombra de incerteza sobre o valor do dólar a longo prazo. No curto prazo, o apetite por ativos americanos continua muito grande - a remuneração dos títulos do Tesouro caiu a quase zero na semana passada, demonstrando que os investidores ainda os consideram os mais seguros do mundo. Mas a longo prazo, a disposição dos estrangeiros, principalmente chineses, japoneses e países produtores de petróleo, de financiarem o déficit americano pode diminuir, à medida que aumenta o déficit e a dívida dos EUA. Existe desconfiança em relação à sustentabilidade das contas públicas americanas e ao potencial de o governo se financiar pela via inflacionária (o que iria corroer o valor dos ativos).

Faz parte do pacote do resgate o aumento do limite de endividamento dos EUA, dos atuais US$ 10,6 trilhões para US$ 11 3 trilhões. Hoje, a dívida pública está em US$ 9,6 trilhões. Isso equivale a 65% do PIB - bem melhor do que o Japão, 182% do PIB, ou Itália, 106% - , mas historicamente é um dos níveis mais altos nos EUA.

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O agravamento do desequilíbrio das contas públicas aumentará a urgência de reforma da previdência e do sistema de saúde americano, as maiores fontes dos déficits projetados. De acordo com o Escritório de Responsabilidade do Governo, nos próximos 75 anos o governo vai gastar US$ 41 trilhões mais nesses benefícios do que vai receber em contribuições. A Previdência vai se tornar deficitária em 2011. Se não forem feitas as reformas, o déficit de orçamento, estimado em quase 4% do PIB em 2009, poderia chegar a 20%

O secretário do Tesouro, Henry Paulson, fez questão de dizer que o governo espera recuperar grande parte dos US$ 700 bilhões com a venda dos papéis comprados dos bancos, e que não afasta a possibilidade de lucrar com o negócio. Mas isso levará um bom tempo, na espera de normalização do mercado e de preços mais razoáveis, ou provavelmente o Tesouro irá manter esses títulos em carteira até o vencimento. Além disso, uma provisão que pode ser incluída na lei exigirá que o presidente dos EUA encontre uma forma de os bancos reembolsarem o governo, caso o Tesouro tenha perdas na venda dos títulos, após cinco anos da compra.

Até agora, nem os candidatos, nem a Casa Branca explicaram como vão financiar esses resgates, com cortes de quais gastos ou aumento de quais impostos.