"Em razão de notícias desta natureza que estão sendo veiculadas, várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas."
Trecho de comunicado da Delta Construção, informando sobre o processo de recuperação judicial.
Problemas
Empreiteira perdeu 30% da receita em um mês
Sob ameaça de ser declarada inidônea, a Delta Construções tem tido problemas de caixa. A informação é de técnicos da J&F Holding, grupo que, após assumir o controle da empreiteira, desistiu na última semana de adquiri-la. No último mês, houve queda de mais de 30% no fluxo de faturamento da empresa, o que tem dificultado o pagamento a funcionários e a compra de insumos. No período, a Delta Construções deixou os consórcios para reforma do Estádio do Maracanã e construção do corredor de transporte Transcarioca, além de ter dispensado 800 funcionários após a Petrobras ter rescindido contrato em obras de parte do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). As prefeituras de Duque de Caxias e São Gonçalo, ambas no Rio de Janeiro, são apontadas como devedoras da empreiteira. As assessorias de imprensa dos municípios não foram encontradas para comentar a questão. A perspectiva de prejuízo nos negócios futuros da construtora, sobretudo em virtude da perda de credibilidade, pesou na decisão da J&F Holding de não comprar a empreiteira.
A Delta Construções ingressou na Justiça do Rio de Janeiro com pedido de recuperação judicial. Segundo a empresa, a medida é parte de "esforços para garantir sucesso na execução e entrega das obras em andamento que são de interesse público e garantir a sustentabilidade da empresa em longo prazo". De acordo com comunicado emitido pela companhia, o pedido à Justiça se dá após a saída do negócio, na sexta-feira, da holding J&F. A empresa, dona do frigorífico Friboi, assumiu a gestão da Delta há um mês.
"A situação financeira da Delta tornou-se insustentável, não restando outra alternativa senão a busca pela recuperação judicial", afirma a nota da companhia. Ainda segundo a Delta, o envolvimento de alguns de seus executivos em supostos atos ilícitos, que estão sendo investigados judicialmente, tem levado a empresa a sofrer uma espécie de "bullying empresarial". "Em razão de notícias desta natureza que estão sendo veiculadas, várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas", diz o comunicado à imprensa. A empreiteira é investigada por parlamentares e pela Polícia Federal por envolvimento com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de corrupção e de comandar um esquema de jogo ilegal.
No processo de recuperação judicial, a empresa submete aos credores uma proposta para quitação de suas dívidas, com desconto de valores e prazos mais alongados. A proposta tem de ser aprovada por uma assembleia de credores. Do contrário, a empresa pode entrar em falência.
Para representá-la, a Delta contratou a consultoria internacional de reestruturação Alvarez & Marsal, responsável pela recuperação judicial de empresas como a Varig e a varejista carioca Casa & Vídeo. No cenário internacional, a consultoria trabalhou no caso do banco Lehman Brothers.
"A administração da Delta está informando à Justiça que todas as empresas do grupo são viáveis economicamente e possuem ativos relevantes e que estão aptas a efetuar as obras e serviços públicos e privados para os quais foram contratadas. Afirma ainda que pretende honrar suas dívidas de forma integral, mas que necessita do amparo judicial para recuperar seu fôlego financeiro", diz o comunicado da Delta.
O comunicado informa ainda que a empresa é responsável, direta ou indiretamente, pelo sustento de cerca de 80 mil famílias. A empresa solicita pedido de recuperação judicial sem possuir dívidas trabalhistas, previdenciárias e tributárias. Os ativos patrimoniais e a receber são muito superiores à dívida atual com fornecedores e bancos.
Desistência
Na semana passada, o comando da holding J&F anunciou oficialmente a decisão de não consumar a compra da Delta, da qual é gestora. O grupo fez uma opção de compra, mas decidiu não a exercer. A intenção do grupo era criar uma empreiteira também chamada J&F. Pesou para decisão a quebra do sigilo fiscal da construtora, feita pela CPI de Cachoeira.
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