Modalidade de aplicação que mais se destacou nos últimos anos, as letras de crédito Imobiliária (LCI) e do Agronegócio (LCA) estão escassas no mercado e desafiam as corretoras de valores a oferecer produtos tão atraentes quanto esses, que aumentaram significativamente a base de clientes de empresas do setor.
A falta das letras de crédito nas prateleiras se deve a uma combinação de redução no ritmo de emissão e crescimento da busca pelo produto. Isso fez com que, ao longo deste ano – e, mais fortemente, nos últimos três meses –, o item se tornasse raro nas casas do gênero. Mesmo clientes interessados em renovar a contratação do produto encontram dificuldades e, por vezes, precisam partir para alternativas como o tradicional Certificado de Depósito Bancário (CDB).
O processo de emissão está travado porque o lastro das letras é vinculado aos créditos imobiliário e agrícola, que estão em decréscimo, diante das dificuldades da economia e do avanço gradual da taxa básica de juros (Selic), já em 13,75% ao ano. O direcionamento de recursos para financiamento imobiliário caiu 31% no último ano, mostram dados do Banco Central. No caso das concessões para agronegócio, o recuo foi ainda maior, de 42,8%.
“Os incorporadores imobiliários e os produtores rurais não estão querendo tomar dinheiro para investir porque a economia não dá boas perspectivas. Isso não permite que os bancos emitam novas letras”, explica Sandra Blanco, consultora de investimentos da Corretora Órama.
Com o lastro limitado, os bancos não conseguem lançar letras para atender à demanda crescente. A emissão de LCI atingiu o pico em janeiro deste ano, com R$ 21 bilhões de recursos captados. Desde então, passou a cair, alcançando R$ 14,1 bilhões em maio – um recuo de 35% sobre o início do ano. Com a LCA, o movimento foi no mesmo sentido: a queda começou em janeiro e acumula volume de 45%, desde então – as emissões em maio totalizaram R$ 5,5 bilhões, ante R$ 9,60 bilhões no início do ano.
Tesouro e CDB são opção
Diante da carência de letras de crédito no mercado, as corretoras buscam produtos com perfil parecido – renda fixa, com baixo risco e razoável taxa de retorno – para atender aos clientes. Têm se destacado os títulos do Tesouro Direto e o CDB.
As letras públicas têm, entre outras vantagens, liquidez diária. A opção mais recomendada é o Tesouro Selic, antiga LFT, que tem rendimento vinculado à Selic, com viés de alta. A Mongeral Aegon Investimentos destaca os fundos de investimentos como alternativa interessante.
O CDB está com rentabilidade mais atraente nos bancos menores, desde o rareamento das letras de crédito. A corretora Órama, por exemplo, negocia CDB com retorno de até 116% da chamada taxa DI, referência para remuneração de títulos bancários e que acompanha a Selic.
A principal diferença diz respeito à incidência de impostos: enquanto LCI e LCA são isentas, as demais aplicações sugeridas têm tributação tradicional, que varia entre 15% e 22,5%, conforme o prazo do investimento. Isso faz com que um CDB fixado em 116% da taxa DI e aplicado por pouco mais de um ano, por exemplo, dê retorno real de 96% da DI.