Inaugurada em 1977, a fábrica da Furukawa foi uma das pioneiras da Cidade Industrial de Curitiba. Hoje ocupa 65 mil metros quadrados, medida que inclui o centro de distribuição inaugurado em outubro| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Investimento em rede terá menos IPI e PIS/Cofins

O pacote de desoneração em gestação no governo, no âmbito do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), envolve a redução das alíquotas do PIS/Cofins, de 9,65% para zero, e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), de 15% para 3%. O benefício valerá para o investimento em oito modelos de rede, fixas e móveis, e vai contemplar desde equipamentos específicos para as redes (cabos, servidores e outros) até o material de construção necessário à implantação dos sistemas.

O objetivo é estimular as operadoras a ampliar seus investimentos em banda larga em 35% até 2016, o que levaria o desembolso no período a R$ 70 bilhões. Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o governo abrirá mão de R$ 6 bilhões ao longo de cinco anos, ou R$ 1,2 bilhão por ano. Mas o ministro admite que, com a demora em publicar a medida provisória, a renúncia fiscal de 2012 será bem menor: ficará perto de metade da estimativa inicial, uma vez que os primeiros incentivos só devem sair em meados do ano.

Segundo Bernardo, o governo trabalha em uma nova redação para a MP. "O TCU exige a demonstração de que, ao abrir mão de uma receita, haverá outra para compensar. Estamos conversando com o TCU e a Fazenda para atender à exigência", diz. Quando a MP sair, explica o ministro, empresas interessadas em investir devem pedir a homologação do benefício ao Ministério das Comunicações, que enviará um parecer ao Ministério da Fazenda. O processo todo pode durar até três meses.

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Empresa prevê crescimento de 12% neste ano

Apesar das atribulações que en­­frenta, a Furukawa mantém o pla­no de investir US$ 20 milhões no país neste ano – valor semelhante ao de 2011 – e também a projeção de faturar entre 11% e 12% mais que no ano passado, alcançando receita superior a R$ 580 milhões. Os principais im­­pulsos para suas atividades vêm do crescimento do mercado de internet de alta velocidade e da expansão (geográfica, da qualidade do sinal e da capacidade de transmissão de dados) da telefonia móvel.

Banda larga e telefonia móvel dependem muito da fibra ótica (no caso desta última, só a comunicação entre torre e celular não usa o material). Isso dá à Furu­kawa, dona de quase um terço do mercado nacional de cabos óticos, um grande potencial de crescimento. A demanda por seus produtos só foi mais forte nos primeiros anos após a privatização da telefonia: em 2001, ela chegou a faturar R$ 800 milhões.

"A ampliação da banda é um processo que as operadoras não conseguem vencer. Quando terminam de investir em uma banda maior, já está quase congestionada", diz Amauri Razente, diretor de operações da Furukawa.

A empresa também deve se be­­ne­­ficiar da estreia da quarta ge­­ração (4G) da telefonia móvel. O lei­­lão das licenças para o uso da frequência destinada à 4G, marcado para maio, vai exigir índice mí­­nimo de conteúdo nacional nas re­­des que as operadoras forem instalar. O edital prevê 60%, mas o go­­verno, pressionado pelas telefônicas, já admite rever esse índice.

Nova linha

Além de investir na expansão da área de cabos óticos, a Furukawa vai abrir uma nova linha de produção em Curitiba, que deve funcionar a partir de outubro. A empresa passará a fabricar o OPGW, cabo para-raios para linhas de transmissão de energia "recheado" com fi­­bra ótica. A Furukawa já vende es­­se produto no Brasil, sob demanda, importado da matriz, no Japão.

"Toda linha de transmissão tem cabos para-raios. A diferença é que o OPGW tem fibra ótica embutida. É interessante para empresas de energia que oferecem serviços de telecomunicações, e para a operação de sistemas smart grid [redes elétricas ‘inteligentes’]", explica Foad Shaikhzadeh, diretor-presidente da Furukawa.

Shaikhzadeh: plano de investimentos mantido, apesar de atribulações

Até alguns meses atrás, demanda não era problema para a Furukawa. Fornecedora das principais operadoras de telecomunicação do país, que vinham investindo em expansão e modernização de redes, a multinacional de origem japonesa viu seu faturamento crescer quase 60% em dois anos. Mas começou 2012 trabalhando bem menos do que esperava.

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A causa está na demora do governo federal em cumprir a promessa de reduzir a carga tributária sobre as redes de fibra ótica – o material é uma das especialidades da Furukawa, que tem em Curitiba sua principal fábrica na América do Sul. As companhias do setor de telecomunicações passaram a suspender as compras no último trimestre de 2011, depois que o governo alardeou que baixaria os impostos, e só devem retomá-las quando os tributos forem de fato reduzidos.

Em 12 de setembro, o ministro das Comunicações, Paulo Ber­nardo, anunciou que o projeto de estímulo à construção de redes estaria "na mesa da presidente Dilma Rousseff" na mesma semana. Passados seis meses, ele agora diz trabalhar para que a desoneração entre em vigor até o fim deste mês, por meio de medida provisória (MP). E avisa que, em razão do prazo de análise dos pedidos, as primeiras autorizações para o uso do incentivo fiscal sairão apenas dois ou três meses após a edição da MP.

A consequência do descompasso entre o anúncio e a redução efetiva dos impostos pode ser medida pelo ritmo de produção da unidade da Furukawa na Cidade In­dus­trial de Curitiba (CIC), que, além de cabos óticos, fabrica cabos metálicos (de cobre, usados nas redes de telefonia fixa) e eletrônicos (para redes de computadores).

"Para quem se acostumou a trabalhar em plena carga, é complicado ver a fábrica ficar horas parada", diz Foad Shaikhzadeh, diretor-presidente da empresa. Em novembro, conta o executivo, a divisão de cabos óticos ocupava 115% de sua capacidade fabril, ou seja, a empresa tinha de recorrer a horas extras para dar conta da demanda. Em fevereiro, esse índice havia recuado para 70%, e começou o mês de março pouco acima de 50%. "Estamos aproveitando essa situação, que a nosso ver é temporária, para conceder folgas, férias e encaminhar funcionários para treinamentos", diz Shaikhzadeh.

Segundo Paulo Bernardo, o benefício ainda não foi publicado porque pontos do projeto foram contestados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "É uma preocupação nossa publicar logo a desoneração, porque é perceptível que há operadoras fazendo um represamento dos investimentos, esperando para ser beneficiadas pelo incentivo que virá", diz.

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Argentina e crise europeia preocupam

Além da demora no incentivo fiscal, a Furukawa anda preocupada com a escalada protecionista da Argentina e a crise na Europa. A questão europeia afeta a companhia de forma indireta. "Operadoras como a Telefônica e a Oi, clientes nossas, têm como acionistas companhias europeias que estão mais criteriosas em seus investimentos. Além disso, fabricantes chineses e indianos de cabos estão tentando vender ao Brasil, por preços reduzidos, o que já não conseguem vender à Europa", conta o diretor-presidente da Furukawa, Foad Shaikhzadeh.

Protecionismo

As novas barreiras argentinas, por sua vez, têm impacto direto sobre a empresa, que detém cerca de 20% do mercado argentino de cabeamentos estruturados. Desde 1.º de fevereiro, o governo argentino usa um regime de licenças não automáticas para suas importações, o que tem atrasado embarques. "Quando soubemos da medida, em dezembro, passamos a antecipar exportações e conseguimos formar algum estoque na filial argentina. Mas em fevereiro, quando o novo regime entrou em vigor, só conseguimos embarcar metade do planejado", conta Amauri Razente, diretor de operações da empresa.

A Furukawa tem uma unidade na província de Buenos Aires, com tamanho equivalente a 15% da fábrica curitibana, mas ainda exporta produtos e componentes daqui para lá. "Os cabos óticos que produzimos na Argentina, de média e alta capacidade, são para uso externo, não atendem ao consumidor final", explica Shaikh­zadeh. "Dentro do Merco­sul, o mínimo que poderíamos esperar seria uma liberdade de comércio. Mas a lógica argentina não funciona assim", lamenta. Junto com o Chile, a Argentina é o principal cliente da Furukawa no exterior – hoje as exportações absorvem entre 15% e 17% da produção da empresa no Brasil.

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Números

1,5 milhão de km de fibras óticas foi a produção da Furukawa na América do Sul em 2011, distribuída pelas unidades de Curitiba (80% do total), Salto (SP), Sorocaba (SP) e da Argentina.

5 milhões de km por ano é o tamanho atual do mercado brasileiro de cabos de fibra ótica. Três anos atrás, a demanda era de 1,5 milhão de quilômetros por ano.

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